A cada tomada de posse de um novo Governo fazem-se promessas e repetem-se intenções, mas quer sejam executivos de direita ou de esquerda, as dificuldades do país são tema transversal a quase todos os discursos.
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Há um ano e meio, quando tomou posse para um segundo mandato enquanto primeiro-ministro, José Sócrates elegeu precisamente o combate à crise como a "primeira prioridade" do executivo e a recuperação da economia como o seu "objectivo central".
Na altura, José Sócrates tinha acabado de perder a maioria absoluta conquistada quatro anos antes, facto que não deixou de referir na sua intervenção, sublinhando que o novo quadro impunha "a todas as instituições e a todos os agentes políticos um elevado sentido de responsabilidade".
"Responsabilidade, desde logo, com a estabilidade política. Estabilidade que é um valor essencial para atrair investimento, aumentar a confiança, estabelecer acordos sociais, tomar decisões de fundo e responder com eficácia à crise económica", apontou José Sócrates, que um ano e meio depois, em Março deste ano, acabaria por apresentar a demissão do cargo de primeiro-ministro, precipitando a realização de eleições legislativas antecipadas.
Quatro anos e meio antes, quando conquistou a primeira maioria absoluta para o PS desde o 25 de Abril, José Sócrates tinha prometido estar à altura do 'voto de confiança' que os portugueses lhe tinha dado, mas advertiu, desde logo, que o seu Governo teria a "sua agenda".
"Este Governo vem para cumprir o seu programa", sublinhou, numa intervenção que teve como curiosidade o anúncio de uma medida muito concreta: retirar às farmácias o exclusivo da venda de medicamentos sem receita.
Oito meses antes, em Julho de 2004, tinha tomado posse Pedro Santana Lopes, que chegou à liderança do Governo de uma forma que ele próprio classificou como "circunstâncias excepcionais", com a saída de Durão Barroso para presidir à Comissão Europeia.
Prometendo "manter o rigor" na disciplina financeira e recusando seguir uma via eleitoralista, Pedro Santana Lopes falou também de assuntos mais concretos, defendendo a descentralização e deslocalização de alguns serviços da administração pública.
Em Abril de 2002, data em que Durão Barroso assumiu a liderança do executivo de maioria PSD/CDS-PP saído das eleições realizadas após a demissão de António Guterres da chefia do Governo, o enfoque da intervenção do discurso do primeiro-ministro foi a necessidade de conseguir o "saneamento" total das contas públicas até 2004.
Em 1999, na tomada de posse do seu segundo Governo, António Guterres elegeu a reforma da Segurança Social como linha forte do seu discurso, onde o Orçamento Rectificativo de 1999 e o Orçamento para 2000 também mereceram uma nota, com o chefe do executivo a prometer disponibilidade de meios para as mudanças programadas na saúde.
Quatro anos antes, em 1995, na tomada de posse do seu primeiro Governo, o socialista que sucedeu a dez anos de 'cavaquismo' falou da modernização da economia e da necessidade de aumentar a produtividade, apesar de sublinhar ter "plena consciência" das dificuldades e que para as superar "não bastava governar bem".
Com um Governo minoritário em mãos e sem qualquer parceiro de coligação, ao contrário do que sucede agora com o PSD de Pedro Passos Coelho, que irá governar com o apoio do CDS-PP, António Guterres também aproveitou logo a tomada de posse para enviar alguns 'recados'.
"Tenho confiança no espírito patriótico, responsável e construtivo dos partidos da oposição, consciente como estou de que tanto valor têm, na vida política, o papel do Governo como das oposições", sublinhou.