A Comissão Nacional do PS aprovou este sábado a possibilidade de eleições primárias abertas a simpatizantes para todos os cargos políticos públicos disputados pelo partido, como deputados e autarcas, mas Álvaro Beleza queria a obrigatoriedade da medida.
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"Foi uma proposta que o secretário-geral apresentou e aprovou no Congresso, foi hoje ratificada pelos comissários nacionais, é um passo em frente na democracia interna do PS, a consagração da possibilidade da generalização de eleições primárias para todos os cargos públicos em Portugal a que o PS se predispõe a disputar", afirmou a líder da federação de Setúbal, Ana Catarina Santos, aos jornalistas.
O comissário nacional Álvaro Beleza, que na direção de António José Seguro foi o grande impulsionador das eleições primárias para secretário-geral, queria que os estatutos tivessem ido mais longe e estabelecido a obrigatoriedade.
"O meu receio é que tudo fique na mesma e acho que era altura de o partido definitivamente introduzir esse regulamento de tornar obrigatório eleições primárias, pelo menos para uma parte dos deputados", disse Álvaro Beleza aos jornalistas à saída da reunião do órgão máximo do partido entre congressos, que decorreu este sábado em Setúbal.
A proposta foi aprovada com um voto contra (de Álvaro Beleza) e duas abstenções.
Álvaro Beleza argumentou que "os tempos são para abrir" o partido à sociedade, que mostrou querer participar, com a votação de 180 mil pessoas nas primárias para o candidato a primeiro-ministro, mas "grande parte do chamado aparelho do partido tem receio da introdução dessas primárias".
"As pessoas têm receio de partilhar poder. Também há o argumento de que nas eleições autárquicas podem as questões do dinheiro ter uma influência maior e grandes empresários eventualmente terem uma maior participação. Mas isso há fórmulas, nomeadamente no financiamento dos partidos, em que se torne o financiamento dos partidos exclusivamente público", disse.
Álvaro Beleza disse ter a certeza que o secretário-geral, António Costa, "acredita no virtuosismo das primárias", mas disse estar ciente, até por ter pertencido a uma direção, "da dificuldade que é para uma direção impor algumas ideias de partilha de poder ao próprio partido".
"Os portugueses são muito conservadores e têm medo da mudança, mas o PS tem que ser progressista e pela mudança. É esse o papel dos líderes e eu confio que António Costa assim o fará", declarou.
Álvaro Beleza reiterou ainda a necessidade de o partido ter propostas claras e da clareza de recusar entendimentos com o PSD.
"Nós queremos ajudar a que o partido tenha maioria absoluta, que tenha uma vitória grande nestas eleições, e pensamos que esta é uma parte da componente, para além de termos que propostas claras e termos que ter clareza, como também disse na Comissão Política, nomeadamente em recusarmos qualquer Governo com o maior partido da direita", disse.
Confrontada com as críticas ao processo de primárias ficar estabelecido como facultativo e não como obrigatório, a dirigente nacional Ana Catarina Mendes respondeu que "o PS não é um partido de unanimismos, é um partido plural, democrático, em que se debatem as ideias e se votam".
"Foram votadas e ganhou esta possibilidade", disse.
Segundo Ana Catarina Mendes, esta "foi uma Comissão Nacional marcada essencialmente pela análise da situação política", quer por "todas as transformações que estão a decorrer na Europa e o que elas implicam para Portugal", e, por outro lado, os dados da pobreza que na sexta-feira "revelaram um aumento brutal da pobreza".