O fundador e ex-presidente do PSD Francisco Pinto Balsemão considerou quarta-feira que o partido se encontra num "impasse" ideológico, do qual tem de sair sob pena de caminhar para "um suicídio colectivo".
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As declarações de Balsemão foram feitas durante um debate promovido pelo Instituto Francisco Sá Carneiro sobre os desafios que se colocam ao PSD, 35 anos depois da sua fundação.
O debate, no qual participaram também o jornalista José Manuel Fernandes e o professor universitário de ciência política Miguel Morgado, centrou-se na definição ideológica do PSD e suscitou reacções diversas na assistência.
Balsemão começou por considerar que "nestes 35 anos, o PSD, em termos de lucidez e coerência social-democrata, andou um tanto a reboque do chamado pêndulo da história".
"E hoje, para além da história e das origens, é difícil, por vezes, dizermos o que distingue verdadeiramente o PSD, qual a nossa identidade ideológica, que grandes temas ou causas defendemos, que propostas e projectos apresentamos para o futuro de Portugal e dos portugueses", prosseguiu.
"Temos de sair deste impasse, sob pena de caminharmos para um suicídio colectivo", concluiu o presidente do grupo Impresa e ex-primeiro-ministro, dizendo que quem analisar "a composição ou decomposição" do eleitorado do PSD "verificará que essa é a tendência".
De acordo com Balsemão, o PSD é ou deveria ser um partido reformista, interclassista, para o qual "o valor da igualdade pesa tanto como o da liberdade" e "que aposta na sociedade civil" embora "sem deixar tudo à mão invisível do mercado".
José Manuel Fernandes defende "matriz mais liberal"
O ex-director do Público José Manuel Fernandes, defendeu que o PSD deveria "fazer evoluir a sua matriz social-democrata para uma matriz mais liberal", assumir a liberdade como "linha central" e apresentar-se como "contraponto" ao dirigismo do Estado na economia que, segundo este jornalista, caracteriza o actual Governo do PS.
Segundo José Manuel Fernandes, o PSD deve dizer: "Aquilo que não queremos fazer é continuar a mandar nas empresas, é continuar a dar tachos, é continuar a colocar os nossos amigos".
Por sua vez, Miguel Morgado sustentou que "o PSD já é e ainda não sabe que é" um partido "muito mais à direita do que à esquerda", porque assim é retratado pelos seus eleitores, "mais conservadores do que progressistas, mais liberais do que socialistas".
Balsemão reagiu a estas duas intervenções recusando "atirar o PSD para a direita" e considerar os sociais-democratas "irmãos-gémeos do CDS".
"Também não me quero fundir com o PS, mas acho que estamos mais próximos do PS, em várias coisas, do que do CDS", considerou.
Também deputado e dirigente nacional social-democrata José Eduardo Martins pediu a palavra para contestar que a solução para o PSD seja "fugir para a direita".