"O que sai do Porto nunca mais volta", alertou esta quarta-feira Rui Moreira, na Faculdade de Ciências Económicas, Sociais da Universidade Lusófona do Porto, num debate sobre "Gestão e política" em que criticou o poder central e os partidos.
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O candidato autáquico, pró-regionalização, defendeu que a melhor maneira de combater o Estado central - na sua opinião, "cada novo Governo é o mais centralista de sempre" - "é não depender dos favores dos partidos políticos, porque muitas vezes muitas vozes têm sido caladas em função de interesses que não são os da cidade mas os interesses partidários." Exemplos: "O que está a acontecer com a Sociedade de Reabilitação Urbana, aconteceu com a RTP, com a Casa da Música, com o aeroporto, com o Metro e quase aconteceu com o Porto de Leixões".
O Porto de Leixões será, de resto, o melhor exemplo para ilustrar "a dança de cadeiras" que considera o principal problema da gestão do país.
"O Porto de Leixões foi construído com o dinheiro das pessoas da cidade no século XIX. No Governo de Pedro Santana Lopes, estava no Ministério das Obras Públicas este senhor [António Mexia] que disse que o Benfica devia ter ganho porque era importante para o PIB do país, e defendeu a fusão dos portos (Porto, Lisboa, Aveiro, Faro, Viana... ). Na altura, combati essa ideia e encontrei no PS/Porto um aliado. Esse Governo entretanto caiu e veio o primeiro Governo de José Sócrates. O assunto não foi falado. Mas depois veio o segundo Governo de José Sócrates. O novo ministro das Obras Públicas voltou à ideia da fusão. Deparei-me com esta situação paradoxal: falei com os meus antigos aliados socialistas, mas obtive apenas um silêncio sepulcral. Quando fui falar com os antigos opositores, os do PSD, já disseram que tinha toda a razão. Mas também esse Governo caiu e veio o actual, cujo secretário de Estado da Economia defende o que diz ser não uma fusão dos portos mas uma holding. Voltei a falar com o PSD, mas a situação voltara a inverter-se: voltaram-me as costas", relatou Rui Moreira.
Para o atual presidente da Associação Comercial do Porto, "mais perverso ainda" foi o facto de o PSD ter dito que a sede do Porto de Leixões poderia ficar no Porto.
"É perverso porque já sabemos o que acontece ao que fica com sede no Porto. Temos o exemplo da Agência Portuguesa para o Investimento [cuja fusão com o ICEP deu lugar à AICEP], temos o exemplo de vários bancos e de várias empresas. A sede é apenas uma casa com uma placa, serve apenas para a Conservatória."
Rui Moreira defende, por isso, que se "exija que os políticos tenham uma posição coerente quando falam de um estado central", porque no lastro de promessas que têm deixado por cumprir, a descentralização ocupa o lugar principal. "Na noite em que a regionalização foi chumbada", recora, "todas as pessoas ouvidas, quem estava contra e quem estava a favor, todas garantiram que o país ia ser descentralizado. Passados estes anos todos, o país está ainda mais centralizado."
Moreira não aceita que lhe digam que a cidade tem ganho algumas guerras. "As que perdemos nunca mais recuperámos. Temos conseguido guardar aqui algumas competências a ferro e fogo, mas nunca vi uma coisa voltar de Lisboa para o Porto". Trata-se, diz, "de um problema político grave que resulta da dança de cadeiras e que tem sempre colocado em causa a gestão do país."