Apesar da crise, o ensino privado em Portugal continua a ter procura. Há até colégios que garantem deixar alunos de fora. Mas os pais fazem "sacrifícios" e cortam nas actividades extra. No interior, as quebras são "significativas".
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No São João de Brito - um colégio jesuíta de Lisboa, com mais de 60 anos, onde as mensalidades do básico ao secundário variam entre 420 e 492 euros, sem direito a almoço e sem actividades extra -, o director garante que a procura não tem baixado. "Recebemos para cima de dez candidaturas por cada vaga", afiança, ao JN, João Muñoz, admitindo que "há muitas famílias que estão a fazer sacrifícios" para manter os filhos nas escolas privadas, por entenderem que é um "investimento numa formação integral e com futuro".
A segurança, os horários e, sobretudo, a estabilidade do corpo docente são, no entender de vários directores, professores e pais que o JN ouviu, as principais razões de quem opta por desembolsar - às vezes mais do que o salário mínimo nacional - para ter os filhos no ensino privado.
Rodrigo Queiroz e Melo, director-executivo da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), diz que "na generalidade" a procura de colégios privados mantém-se nas grandes cidades, embora com algumas famílias a reequacionar os gastos com as actividades extra-curriculares. A quebra na procura (ainda não quantificada) é mais "significativa" no interior do país, "muito por culpa do desemprego".
No caso de Lisboa, este ano até vai abrir um novo colégio com capacidade para 700 alunos na zona da antiga Expo que, por ser bastante carenciada de escolas, teve uma procura "enorme". O objectivo dos promotores é, dentro de três anos, chegar aos 1640 alunos. No entanto, de acordo com a AEEP, deverá tratar-se de um investimento isolado, visto que a perspectiva é que o número de alunos estabilize.
António Sarmento, director do Colégio Planalto, uma escola católica dirigida a rapazes, com 580 alunos do pré-escolar ao 12º ano, diz que o número de alunos subiu 6% este ano, mas admite que "há pais que têm prescindido das actividades extra-curriculares".
"Vemos que os pais têm mais dificuldades e que fazem opções, como por exemplo cortar nas férias. Mas quem decidiu ter os filhos no privado fez uma opção pensada, de que é muito difícil prescindir", afirma, reforçando a ideia de que os pais procuram escolas que respeitem "os seus valores de família" e lhes dêem garantias de estabilidade .
"Infelizmente, os pais notam que, nos últimos anos, os professores do ensino público viveram um momento de indefinição e revolta. No privado, a estabilidade é total e completa. Não há estas 'guerras' da avaliação, nem a tentação de abandonar o sistema a meio do ano lectivo", nota, lembrando que os professores no privado já são avaliados há três anos.
Vários professores, pais e alunos confirmaram ao JN que a estabilidade do corpo docente é uma das principais razões pelas quais escolhem escolas privadas, mas também o facto de terem a certeza de que os filhos estão "vigiados e seguros". A probabilidade de serem acompanhados pelo mesmo professor durante vários anos é outra das "mais valias".
Contudo, como reconheceu, ao JN, o professor José Pedro Paio, com experiência no público e no privado, o que faz "toda a diferença" é a capacidade económica dos pais. Além de fazer uma selecção automática dos alunos, o facto de os pais estarem dispostos a investir na educação dos filhos faz com que, por norma, sejam "mais exigentes" com ele. O que não significa que isso também não aconteça no ensino público, ressalva José Pedro Paio.