Desleal, traidor e falso. Seguro encetou o debate televisivo desta terça-feira desmontando os argumentos de Costa. O confronto durou 35 minutos na TVI e foi o primeiro de três rounds. O próximo é esta quarta-feira na SIC.
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António José Seguro avisou previamente que não queria "retirar curiosidade ao debate". E sabia porquê. Quando António Costa começou a repetir o argumento de que "o PS não soube demarcar-se do Governo logo na votação para o Orçamento do Estado (OE) para 2012", altura em que Passos Coelho assumiu que "queria ir para lá da troika, cortando salários e pensões", e classificou a abstenção socialista como "o momento capital que compromete o PS", o ainda secretário-geral do partido exibiu o trunfo que tinha preparado.
Seguro leu uma citação de Costa retirada do programa da SIC Notícias, "Quadratura do Círculo", para sustentar a acusação de "zig-zag" que atirou ao adversário. "Tu representas aquilo que os portugueses não gostam, dizes uma coisa em público e outra em privado. Foste à Comissão Política dizer que o PS devia votar contra o OE e na televisão defendeste que a abstenção deve ser a regra para a estabilidade".
Costa gaguejou - "Não queiras com uma árvore construir uma floresta" - e não conseguiu rebater a acusação, balbuciando que defendeu "um acordo duradouro e não apenas para o OE". Seguro prosseguiu - "Tu não tapes o sol com a peneira" -, dizendo que votar contra o OE 2012 "seria um erro e um regresso ao passado", e abriu alas para que se desenterrasse o legado de José Sócrates. "Fui obrigado a respeitar uma herança que não criei, mas que tive de cumprir".
O candidato às primárias de 28 de setembro referia-se ao memorando de entendimento assinado também pelo PS, mas aproveitou a boleia para voltar a dizer que não obteve melhor resultados nas europeias de maio - argumento usado por Costa para disputar a liderança - por culpa do seu antecessor. "Muitos portugueses olham para o PS como sendo responsável pela situação a que o país chegou", razão pela qual, continuou, "não conseguimos capitalizar a desilusão dos eleitores não só com a política mas também com a forma de fazer política".
Instigado pela moderadora Judite de Sousa, Costa acabou também por reconhecer alguns erros de Sócrates, enunciando até dois exemplos: "ter usado a maioria absoluta como autossuficiência" e "ter subestimado a importância de acordos alargados para as infraestruturas que comprometeriam o país".
Retomando as eleições de maio, e o resultado que "só a direção do PS considerou positivo" (36%), o autarca de Lisboa insistiu que a razão pela qual o PS foi penalizado nas urnas deveu-se a circunscrever a sua diferença em relação ao Governo de coligação PSD/CDS-PP "no ritmo e na dose" em vez de "afirmar-se como alternativa". "A razão pela qual o PS foi penalizado nas europeias foi porque o PS, ao longo destes três anos, não conseguiu afirmar um discurso alternativo. Procurou distinguir-se do Governo simplesmente pelo ritmo e pela dose. Mas os portugueses não pedem nem menos ritmo ou dose, mas um caminho diferente e alternativo", argumentou.
Seguro ripostou, dizendo que "é a primeira vez, em 40 anos, que um líder que vence duas eleições seguidas, autárquicas e europeias, é contestado. Tratando Costa por tu, registo que usou durante todo o debate, disse-lhe: "Tu não goste solidário com o teu partido. Com a tua atitude dividiste o partido e deste um passeio a Passos Coelho e Paulo Portas".
O autarca de Lisboa recusou qualquer "calculismo" no seu percurso político e afirmou que "só quem não conhece a situação em que o país está pode achar que chegar ao poder é um prémio e não uma responsabilidade". E garantiu que só avançou por sentir que o PS precisa de "um suplemento de confiança" e de uma "energia renovadora" para ganhar as próximas legislativas e responder aos problemas dos portugueses
Sempre em desvantagem de tempo, mas em vantagem na concretização de propostas, Seguro prometeu que, se for eleito primeiro-ministro, não aumentará a carga fiscal (IRS e IRC) e baixará o IVA na restauração para a taxa intermédia de 13%. Se tiver de fazer o contrário, apresentará a demissão do cargo, garantiu.
Escudando-se numa "trajetória" que não reconhece este momento como ideal para fazer propostas "que dependem de muitas variáveis", Costa não se comprometeu com nada em relação a impostos.
Só sobre as presidenciais, ambos estão de acordo: os dois desejam António Guterres.
"É um homem com uma enorme sensibilidade social, é um homem de diálogo tem um prestígio internacional que pode ajudar o Governo, que desejo liderar, a ter uma voz firme na União Europeia", justificou Seguro. Costa deu apenas a garantia de que se Guterres for candidato, uma vez que as presidenciais "depende da vontade do próprio", votará nele.