<p>Continuação da entrevista ao primeiro-minsitro, José Sócrates.</p>
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Está absolutamente convencido, com os dados que tem, de que não vamos precisar de outro PEC até 2013?
O PEC é credível. Podemos fazer este esforço sem aumentar impostos ou penalizar empresas. É o PEC de que o país necessita. Já o fizemos uma vez e seremos capazes de o fazer de novo.
O ministro das Finanças, em entrevista ao JN, disse estar disposto a correr todos os riscos para salvar o país, dando a entender que mais medidas serão tomadas.
Este Governo não recusará fazer o que deve. Há uma margem ainda para negociarmos com os sindicatos. Começámos já esse diálogo na Concertação Social.
Os números do INE são algo preocupantes...
Todos os indicadores que temos sobre a actividade económica de Janeiro são bons. Há muito tempo que não via tantos números positivos. Passei ano e meio a vê--los sempre negativos.
A crítica que tem sido feita ao PEC é que não contém uma política de crescimento visível. É pelas exportações, pela inovação… Vamos por onde?
Estamos a fomentar as duas coisas ao mesmo tempo. É natural que um PEC seja fundamentalmente avaliado pela correcção das contas públicas. Mas é errado pensar-se que corrigir as contas públicas não é importante para o crescimento. Temos de cumprir vários desígnios ao mesmo tempo, entre os quais assegurar a credibilidade internacional da nossa economia, para garantir o seu financiamento. Pergunta-me qual o plano para o crescimento? É o que temos feito com a área de energia, onde vamos ter mais crescimento. Na construção de barragens, em mais parques eólicos. Vamos criar 130 mil postos de trabalho na energia e reduzir em 25% as importações de petróleo, até 2020. Vamos apostar no carro eléctrico. Sabem qual o país da UE que lidera o ranking do Governo electrónico? Portugal. Qual a escola tecnologicamente mais evoluída do Mundo, segundo a Microsoft? É a de Várzea de Abrunhais, aqui em Portugal. Energias, exportações, inovação, tecnologia, qualificações, modernização das infra-estruturas: é esse o caminho do crescimento. Dizer que o PEC não aposta no crescimento não é dizer a verdade.
A previsão do nível de desemprego no PEC é de 9,3% para 2013. Não teme que a eventual escalada do desemprego seja o grande motor da contestação social?
Há aí um erro na análise. O elevado desemprego é a situação de todo o Mundo. Espanha tem 17%, a França tem 10%...
Com o mal dos outros...
Eu sei, mas não podemos olhar para a situação portuguesa como se fosse diferente. Os portugueses percebem isso bem. O aumento do desemprego em Portugal é semelhante ao da Europa e dos Estados Unidos. E o défice? Nos EUA é de 11,7%, no Japão de 12%. Todos os países sofreram quebras brutais de receitas e tiveram de fazer um esforço adicional para apoiar os desempregados. Tenho esperança de que o desemprego estabilize e que, quando retomarmos os níveis de crescimento, comece finalmente a descer.
O que se tem criticado é que as previsões são pouco ambiciosas, em matéria de desemprego.
É tão fácil fazer previsões ambiciosas! Seria fácil pôr no PEC que a previsão do desemprego para 2013 é de 3%, mas isso seria considerado pouco credível. O nosso cenário macroeconómico é propositadamente conservador, muito realista. Foi uma opção. Se for este, estamos em condições de o cumprir. Até prevemos para 2011 um crescimento económico menor do que o Banco de Portugal e muitas instituições internacionais. Traçámos um cenário de prudência. Não queremos que alguém receba o PEC e diga que estamos a fantasiar.