O presidente executivo da PT remeteu hoje, domingo, para a comissão de auditoria interna da sua empresa o esclarecimento sobre o papel da Taguspark na tentativa de aquisição de parte do capital da Media Capital, proprietária da TVI.
Corpo do artigo
A acção desempenhada pelo ex-administrador da PT Rui Pedro Soares e a forma como a Taguspark esteve envolvida no negócio para a compra da TVI foram dois dos temas levantados pelo PSD na segunda presença de Zeinal Bava na comissão de inquérito parlamentar.
Nas perguntas, o deputado social-democrata Agostinho Branquinho sugeriu que Rui Pedro Soares tinha "uma especial sensibilidade" para o negócio com o grupo espanhol Prisa, já que tinha estado envolvido numa primeira tentativa de negócio por via da Taguspark.
A posição do deputado do PSD começou por merecer um comentário de repúdio por parte de Zeinal Bava: "Eu respeito-o a si e agradecia que me respeitasse".
"Em relação ao Taguspark já disse na anterior vez que estive na comissão de inquérito que se tratam de factos que vieram a ser conhecidos posteriormente e que eu não tinha conhecimento", frisou o presidente executivo da PT.
Num dos momentos de maior tensão nesta reunião da comissão de inquérito, Zeinal Bava pediu depois para que se mantivesse "um nível de respeito mútuo".
"Já disse que o Taguspark são factos posteriores e que a Comissão de Auditoria [da PT] fará o seu trabalho. Tenho total confiança de auditoria para o fazer", salientou.
Depois desta resposta do presidente executivo da PT, Agostinho Branquinho voltou à carga, questionando-o sobre os motivos que levaram Zeinal Bava e o presidente do Conselho de Administração da empresa, Henrique Granadeiro, a nada terem comunicado aos restantes conselheiros, depois de terem decidido suspender o negócio com a Media Capital.
"Se suspenderem o negócio de manhã, que razão houve para que nada tivessem comunicado à tarde aos membros do Conselho de Administração?", perguntou o deputado do PSD.
Zeinal Bava, tal como em anteriores respostas, remeteu para declarações que proferiu por ocasião da primeira vez que esteve na comissão de inquérito.
As razões da suspensão do negócio "tinham a ver com o mediatismo à volta da transacção e alguma preocupação com a reputação da PT face ao enquadramento que existia", alegou.
Neste ponto, Bava aproveitou para sublinhar que a Comissão Executiva da PT "não faz política, que tem num quadro de referência estritamente profissional".
"Em relação ao Conselho de Administração da PT, o ponto [do negócio com a Prisa] não estava agendado formalmente", mas acabou por ser debatido "no ponto referente a diversos", disse.
O deputado social-democrata Pacheco Pereira pegou depois nestas últimas palavras de Zeinal Bava para observar que "tem todo o sentido as questões do risco reputacional e da mediatização do negócio na medida em que, pelo menos, acabou com esse negócio".
"Ou seja, a lógica puramente de negócios foi puramente interrompida pela mediatização. Mediatização significa que o negócio foi visto como politizado e o que [Henrique Granadeiro] nos disse foi mais ou menos a mesma coisa: quando se soube do negócio, percebeu-se a dificuldade de o prosseguir, porque implicava consequências políticas inaceitáveis para a PT", sustentou, antes de concluir: "Neste negócio, desde sempre que houve um problema de risco reputacional", salientou.
O PS decidiu abdicar de fazer perguntas ao presidente executivo da PT, alegando que o depoimento inicial de Zeinal Bava, nesta segunda intervenção na comissão de inquérito, "foi coerente".
Segundo o vice-presidente da bancada socialista, Zeinal Bava não deixou qualquer dúvida sobre a ausência de contradições no processo de negociações entre a PT e a Prisa para a aquisição de parte do capital da Media Capital.
"Para nós é gratificante saber que, quem fala a verdade, fala a verdade. Portanto, para o PS, não há lugar para qualquer questão", acentuou Ricardo Rodrigues – intervenção que provocou sorrisos irónicos entre os deputados das forças da oposição.
Zeinal Bava ouvido pela segunda vez na comissão parlamentar de inquérito PT/TVI
O presidente executivo da Portugal Telecom (PT) está a ser ouvido hoje, domingo, na sequência de um requerimento do PCP, interposto por considerar haver "várias contradições" entre as declarações do presidente executivo da PT e as do administrador-delegado da Media Capital, Manuel Polanco, ouvido na sexta-feira.
Na audição de sexta-feira, Manuel Polanco disse que falou pela primeira vez com Zeinal Bava sobre a possibilidade de negócio no dia 26 de Maio de 2009.
No entanto, João Oliveira considerou haver uma contradição, uma vez que o presidente executivo da PT tinha apontado o dia 19 de Junho.
Outro ponto apontado pelo PCP diz respeito à data do fim das negociações.
Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, presidente do conselho de administração da PT, garantiram na comissão de inquérito ter decidido no dia 25 de Junho de manhã que o negócio não iria concretizar-se.
Na sexta-feira, Manuel Polanco referiu também ter falado com Zeinal Bava sobre o negócio já depois de Rui Pedro Soares ter saído de Madrid – segundo João Oliveira, o então administrador da PT deixou Madrid às 10 horas de 25 de Junho.
A comissão de inquérito à actuação do Governo na tentativa de compra da TVI visa apurar "se o Governo, directa ou indirectamente, interveio na operação conducente à compra da TVI e, se o fez, de que modo e com que objectivos".
A alínea b do documento fixa ainda que o inquérito pretende "apurar se o senhor primeiro-ministro disse a verdade ao Parlamento, na sessão plenária de 24 de Junho de 2009", quando disse não ter sido informado da operação.