O antigo diretor do Teatro Municipal da Guarda e recente fundador do Teatro do Calafrio gosta do que faz, mas viaja para que as palavras não esmoreçam na cidade de segredos bem guardados e revelações.
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Neste ano, tem dinheiro para férias?
Poupei algum para conhecer uma grande cidade europeia com a família. Dinheiro apenas para uma escapadela.
O que não vai deixar de fazer?
Viajar. Para quem vive todo o ano numa cidade pequena e apertada como a Guarda, que, paradoxalmente, "tem o melhor ar de Portugal", viajar deveria ser uma medida terapêutica, prescrita pelos médicos do Serviço Nacional de Saúde. Por uma questão de equilíbrio. Viajar, respirar outros ares, conhecer outras pessoas.
Convença-me a passar férias na Guarda.
A Guarda tem uma história de mais de 800 anos. É uma cidade de granito (a Sé é, para os poetas, uma "sinfonia de pedra"), forte, mas acolhedora. O Centro Histórico, apesar de merecer uma atenção urgente, é ainda um espaço de memórias e de descobertas. Dispense mapas, fale com o sapateiro, com o vendedor de antiguidades, com o talhante, com a vendedora de frutas, com o jovem pintor. Sente-se numa das esplanadas da Praça que é Velha, é de Camões e é de D. Sancho. Perca-se nas conversas e deixe o tempo correr. Banda sonora: o primeiro disco do projeto Ai. Música medieval e tradicional.
Qual é o segredo mais bem guardado da cidade?
Na Guarda, um segredo é duplamente guardado! Talvez por isso não sei nenhum importante. Devem estar fechados a sete chaves. Assim, prefiro optar pela maior das revelações. Na Guarda, já há silêncios a mais. Eis a revelação: o anjo é da Guarda. Que outra cidade pode dizer o mesmo?