O ex-presidente da REN (Redes Energéticas Nacionais), José Penedos, arguido no processo 'Face Oculta', afirmou, esta quarta-feira, nunca ter pedido a ninguém para fazer "favores ou jeitinhos", nomeadamente para favorecer a empresa 'O2' de Manuel Godinho.
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"Histórias de corrupção não dão com a minha cara. Não há ninguém que possa dizer ao tribunal que alguma vez pedi para fazer favores ou jeitinhos", disse José Penedos, que retomou o seu depoimento no tribunal de Aveiro, interrompido na passada sexta-feira.
Respondendo às questões do seu advogado, Rui Patrício, o antigo presidente da REN afirmou ainda não acompanhar a vida material dos seus filhos, desconhecendo, inclusive, quanto é que estes ganham.
O antigo secretário de Estado falou ainda sobre a sua relação com o seu filho, Paulo Penedos, igualmente arguido no processo, e revelou que este lhe contou que um dia ainda seria conhecido como "o pai do Paulocas", uma expressão que o mesmo usou durante o inquérito no Juízo de Instrução Criminal de Aveiro e numa entrevista ao 'Jornal de Negócios' em 2007.
Os presentes na sala de audiência puderam depois ouvir a escuta de uma conversa telefónica onde Paulo Penedos pede emprestado a Manuel Godinho 25 mil euros, justificando que não quer pedir aos pais porque diz que "ficam logo em pânico". "É o retrato da relação que está preanunciada", diz José Penedos, num comentário à conversa.
O antigo responsável pela empresa que gere as Redes Energéticas Nacionais afirmou ainda que o seu filho Paulo lhe telefonava "muito frequentemente". "É a lógica da relação dele comigo. Normalmente é ele que liga. Só falo para ele quando quero saber das minhas netas", afirmou José Penedos, que confessou ainda não gostar de falar ao telefone.
O ex-presidente da REN voltou ainda a ser confrontado com os presentes natalícios alegadamente entregues por Manuel Godinho, no valor de mais de cinco mil euros, e reafirmou que o seu comportamento "não dependeu disso".
"Não tenho nada parecido com isto. Aguardaram para o final da minha vida para o fazer. Penso que é uma espécie de pré-julgamento para a eternidade. Tenho uma vida empresarial de 44 anos e ninguém pode dizer que torceu o braço a José Penedos", declarou.
Penedos revelou em audiência que auferia na REN 400 mil euros anuais, mais prémios, querendo com isto significar que tinha desafogo financeiro suficiente para estar imune ao jogo dos favores.
Reafirmou ainda que nunca deu ao filho Paulo "qualquer informação que representasse privilégio face ao mercado".
"Não falo de preços, não falo de condições técnicas, nem de tabelas de concursos. A informação sobre a marcha dos processos era aquela que podia dar a qualquer interlocutor que se identificasse como advogado", concluiu.
O ex-presidente da REN recusou ao tribunal de Aveiro o direito de se intrometer na sua vida político-partidária, a propósito de uma questão do procurador Marques Vidal sobre a sua relação com o fiscal de resíduos da REN Manuel Patrão - relacionamento esse que seria especial por razões político-partidárias. Perante o tribunal, na ponta final da sua inquirição, Penedos já tinha separado as águas, alegando que isso é "uma questão de cidadania".
O interrogatório a José Penedos terminou cerca das 12 horas e o juiz interrompeu a sessão que recomeçará ao início da tarde com o interrogatório a Paulo Penedos.