José Eduardo Moniz, antigo director-geral da TVI, garante que houve ingerência do Governo no caso que levou ao seu afastamento do canal e ao fim do "Jornal Nacional" e diz que disso sai beliscado o primeiro ministro e o sistema judicial.
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Moniz falava em Maputo, onde assinou pela Ongoing um acordo com um grupo de comunicação social de Moçambique.
"Ontem [quarta-feira] houve uma pequena 'nuance' nas afirmações do primeiro ministro: diz que não teve conhecimento formal [do negócio entre a PT e a TVI], anteriormente não tinha conhecimento puro e simples, o que significa que alguma coisa sabia do negócio", disse José Eduardo Moniz.
E acrescentou: "Que houve ingerência nestes processos relacionados com a TVI e com outras entidades da parte do Governo, não tenho a mínima duvida, aliás, acho que hoje em dia em Portugal ninguém tem dúvidas sobre isso. Apenas se não conhecem os contornos específicos em que as coisas ocorreram".
Para o antigo responsável da TVI, este caso pode levar ao fortalecimento da actividade jornalística em Portugal, porque "a circunstância de se terem tornado conhecidos alguns episódios que envergonham quem deles participou" vai acentuar como fundamentais os princípios da independência, frontalidade e transparência.
Mas diz também que o processo de descoberta da verdade está inquinado "a partir do momento em que há despachos judiciais que impedem que se tornem conhecidas algumas conversas que poderiam contribuir" para essa verdade.
"Acho que sai muito beliscada a classe política de tudo isto, nomeadamente o primeiro ministro e o Governo que liderou anteriormente, como também sai beliscado o poder judicial, porque são muitos os ziguezagues, são muitos os enredos em que o próprio sistema judicial se envolveu", disse José Eduardo Moniz.
Moniz afirmou ainda que saiu da TVI porque "a partir de determinada altura tinha deixado de ser possível sustentar o ambiente que se tinha gerado".