O advogado Paulo Penedos, arguido no processo Face Oculta, negou, esta terça-feira, ter sido informado de que estava a ser alvo de escutas telefónicas, ao contrário do que afirmam os investigadores.
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A informação foi avançada pelo arguido, após Rui Carvalho, inspector da PJ que coordenou as investigações, ter referido, na sessão da manhã, que havia uma "alteração no padrão das conversas telefónicas" de alguns arguidos que indiciava que tinham sido avisados que estavam sob escuta.
Demonstrando alguma irritação perante a persistência da questão, Paulo Penedos manifestou o desejo de prestar esclarecimentos ao tribunal para afirmar que teve sempre o mesmo telefone e que nunca foi avisado que estava sob escuta.
O arguido adiantou ainda ter já respondido a essa questão logo no primeiro interrogatório judicial, enquanto arguido, e em dois inquéritos, como testemunha, realçando que o assunto "não é objecto deste processo".
"Não há um único artigo na acusação ou na decisão instrutória em que esta questão seja referida", acrescentou Paulo Penedos aos jornalistas, no intervalo para almoço.
O arguido chamou ainda a atenção para o facto de se "estar a lançar lama para cima do nome das pessoas", sublinhando que "os efeitos colaterais destes processos para o bom nome das pessoas são muitos".
"Estar-se a insistir neste tipo de questões é obviamente muito grave para o nome de uma pessoa que já tem sido muito afectado", adiantou.
A 14ª sessão do julgamento do processo Face Oculta está a decorrer no tribunal de Aveiro com a continuação da inquirição ao inspector da PJ Rui Carvalho, que está a responder a questões dos advogados de defesa.
Desde o início do julgamento, a oito de Novembro, o tribunal já ouviu quatro arguidos, designadamente o antigo ministro e ex-vice presidente do BCP, Armando Vara, o ex-presidente da Redes Energéticas Nacionais José Penedos, o ex-quadro da Galp António Paulo Costa e o administrador da Indústria de Desmilitarização e Defesa José António Contradanças.
O depoimento do arguido Paulo Penedos, que foi interrompido no dia 18 de Novembro, continuará a partir de 28 de Fevereiro.
Dos seis arguidos que manifestaram intenção de prestar declarações nesta fase do processo, falta ainda ouvir o gestor Lopes Barreira, que está a aguardar autorização do hospital de Aveiro para fazer, nesta unidade, o tratamento de hemodiálise a que é sujeito três vezes por semana.
O caso Face Oculta está relacionado com uma alegada rede de corrupção que tinha como objectivo o favorecimento de um grupo empresarial de Ovar ligado ao ramo das sucatas nos negócios com empresas do sector empresarial do Estado e privadas.
No banco dos réus estão sentados 36 arguidos, 34 pessoas e duas empresas, que respondem por centenas de crimes de burla, branqueamento de capitais, corrupção e tráfico de influências.