William McKinney que, na segunda-feira, assegurou ao tribunal, a partir da Irlanda do Norte, por videoconferência, que tinha conhecimento de um encontro entre Charles Smith e José Sócrates para negociar o projeto do Freeport de Alcochete, disse "ter pensado melhor durante a noite" e realçou que apenas ouviu conversas informais sobre o assunto.
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A testemunha diz que em resultados das conversas que ouviu subentendeu que o arguido estaria a negociar com o ministro do Ambiente e acrescentou ainda não ter conhecimento de pagamentos ilícitos para fazer aprovar o outlet de Alcochete.
A testemunha, ex-dono dos terrenos da antiga fábrica de pneus da Firestone onde foi construído o outlet de Alcochete, disse esta terça-feira desconhecer a existência de pagamentos para a aprovação do projeto, o que levou o procurador Vítor Pinto a confroná-lo com declarações que fizera aos investigadores da PJ em fase de inquérito em que alude à entrega pelos promotores do Freeport de uma mala com dinheiro para obterem a aprovação do projeto.
Mckinney, que ainda não explicou com quem teve a conversa "off de record", declarou-se surpreendido por um diálogo desse tipo, mantido no final de um depoimento prestado no tribunal de Lagos, tenha sido transcrito para os autos do processo, quando se tratou de uma "piada" feita por alguns amigos, porque não cabia tanto dinheiro numa mala.
Mostrando-se mais cauteloso nas suas afirmações ao tribunal do Barreiro, Mckinney deu explicações mais brandas para o facto de na segunda-feira ter dito que Charles Smith lhe dissera que estava a manter "negociações secretas" com oi então ministro do Ambiente José Sócrates com vista à aprovação do projeto Freeport.
Esta terça-feira, a testemunha recuou e limitou-se a dizer que seria "lógico" os consultores e arguidos Manuel Pedro e Charles Smith tivesse acesso directo a José Sócrates, porque o problema existia com o Ministério do Ambiente, que era quem tomava a decisão.
Explicou que a ideia de que havia uma intervenção de Sócrates na aprovação do projeto resultou de conversas informais que manteve com os arguidos e com os administradores do Freeport.
Paula Lourenço, advogada dos arguidos Manuel Pedro e Charles Smith, questionou a testemunha sobre se alguma vez sentiu que estava a ser alvo de extorsão por parte de ambos, ao que Mckinney respondeu: "De maneira nenhuma".
Mckinney lembrou que teve discordâncias profissionais com a empresa Smith & Pedro, mas salientou ter ficado muito "satisfeito" com o trabalho de Manuel Pedro e Charles Smith, enfatizando que se tivesse um outro projeto em Portugal contratá-lo-ia novamente.
O tribunal ouviu também António Fonseca Ferreira, antigo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo, que, na qualidade de testemunha, disse não saber quem era o "Pinóquio".
Isto porque, num fax enviado por Charles Smith a um dos administradores do Freeport, é dito que Santos Ferreira é "amigo próximo" do Pinóquio. Santos Ferreira disse ser militante do PS e pertencer atualmente à comissão política do partido, e que do seu círculo de amigos não conhece ninguém com aquela alcunha.
O tribunal ouviu ainda a arquiteta paisagista Maria João Vaz Nogueira, que presidiu à segunda Comissão de Avaliação do estudo de impacto ambiental e que emitiu um parecer desfavorável ao projeto, tendo em conta "a carga" de pessoas que o empreendimento ia atrair, já que incluia um hotel e um clube nocturno/discoteca.