O número de operários mortos nos trabalhos de construção de um túnel em Andorra subiu hoje, domingo, para cinco, todos eles de nacionalidade portuguesa.
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A confirmação da nacionalidade das cinco vítimas mortais foi dada hoje, domingo, à Lusa por uma fonte oficial da secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.
O governo andorrenho tinha adiantado esta manhã à agência Lusa que o número de operários mortos no acidente de sábado tinha subido para cinco, escusando-se a confirmar a nacionalidade das vítimas.
Horas depois, a secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas confirmou que todas as vítimas mortais são portuguesas e adiantou que os serviços têm estado em contacto com as empresas para as quais trabalhavam, a Ambicepol e a Unifor.
"Temos estado em contacto com as empresas [para as quais trabalhavam os portugueses] e a informação que temos é que está tudo regularizado, sobretudo ao nível dos seguros, que é uma preocupação nossa", disse a fonte da secretaria de Estado das Comunidades.
Sobre os restantes seis feridos, a mesma fonte disse que "estão livres de perigo". Cinco estão hospitalizados em Andorra e o sexto, o mais grave, está em Barcelona. "Vai ser visitado pelo nosso representante do Consulado de Barcelona cerca das 12:00", sublinhou.
Um porta-voz do governo de Andorra tinha feito anteriormente um balanço actualizado do acidente.
"O balanço de vítimas mortais subiu para cinco. Uma delas [a quarta vítima mortal] era a pessoa que foi resgatada sábado e levada para o hospital em estado crítico, com politraumatismos e hipotermia", afirmou à Lusa a fonte do governo andorrenho.
"O resgate deste operário [que entretanto morreu] permitiu localizar, já morta, a única pessoa que estava desaparecida até ao momento. Ou seja, neste momento temos quatro mortos soterrados debaixo dos escombros" e um quinto operário que morreu no hospital, acrescentou.
O conselheiro das comunidades portuguesas em Andorra disse esta manhã à Lusa que quatro das vítimas mortais eram operários portugueses.
Segundo José Manuel Silva, o trabalhador português removido com vida também não resistiu aos ferimentos causados pelo desmoronamento nem à hipotermia associada às 12 horas em que esteve debaixo dos escombros.
"Confirma-se. O senhor que esteve soterrado 12 horas no cimento e nas ferragens saiu com vida e infelizmente morreu hoje de madrugada, às 04:00", disse José Manuel Silva.
O trabalhador português "morreu no hospital, devido à hipotermia", acrescentou a mesma fonte. "Por ter estado 12 horas metido entre os ferros", concluiu.
"Quanto ao ferido grave em Barcelona temos informação que está fora de perigo", disse igualmente.
Três vítimas mortais foram confirmadas pelo Governo de Andorra ao fim do dia de sábado, ainda antes de serem retiradas do local, de difícil acesso para as equipas de salvamento. Já perto da meia noite local, foi resgatado dos escombros o último sobrevivente, que viria a falecer no hospital.
O JN sabe que uma das vítimas é natural do Gerês, no Minho, e a outra é de Valpaços, em Trás-os-Montes. Fonte consular confirmou à Lusa que ambos residiam em Andorra, e trabalhavam para uma empresa com sede na região, a Unifor.
Os sete feridos foram transportados para o Hospital Nuestra Senhora de Meritxell, tendo sido um deles, o mais grave, transferido para o hospital Vall d' Hebron, em Barcelona, onde foi sujeito a uma operação maxilofacial devido aos ferimentos na cabeça. Os seis primeiros resgatados "sofreram traumatismos e queimaduras, por causa do cimento, mas estão livres de perigo", assegurou ao JN o conselheiro para as comunidades, José Manuel Silva. Desconhecia-se o estado do último sobrevivente.
O acidente ocorreu perto do meio-dia (hora local), no eixo que liga a estrada para La Massana, freguesia do noroeste do principado de Andorra, à entrada principal do túnel, que faria a ligação para a freguesia de Encamp. Os trabalhos na obra, que deveria estar concluída no próximo ano, tinham começado às seis da manhã com a injecção de betão. Trabalhavam ali cerca de 60 portugueses contratados por empresas nacionais que, por sua vez, são subcontratadas pela Dragados, uma grande construtora espanhola.
Paulo Pinto, proprietário da Ambicepol - uma das muitas firmas a operar ali -, afirmou ao JN que tinha destacado para a obra 24 funcionários, "12 dos quais estavam em cima do tabuleiro quando ele aluiu, mas conseguiram segurar-se". À noite, ainda a caminho do local do acidente, a informação que o empresário possuía apontava para "um trabalhador desaparecido". A totalidade dos seus operários, recrutados nas zonas de Paredes e Marco de Canaveses, vinham a Portugal apenas uma vez por mês. "Ao terceiro fim de semana".
Na construção daquele túnel trabalham também portugueses que já fizeram de Andorra a sua casa. É o caso de José, que ali vive há 14 anos com a família, e que ontem driblou o azar. "Dez minutos antes do desabamento, tinha estado em cima da ponte a fazer provas de betão", contou ao JN. "Fui um afortunado", disse com a voz embargada. "Tenho lá vários amigos, um deles está soterrado, não sei se vivo ou morto".
Não é a primeira vez que o túnel de Dos Valires vitima portugueses. Em Abril de 2007, um operário de 23 anos caiu de uma altura de 15 metros quando manobrava um camião, vindo a falecer depois devido aos ferimentos. A 30 de Abril deste ano, um barcelense de 25 anos do Grupo PAJ, de Esposende, caiu de 25 metros de altura após o passadiço para onde saltou ter cedido.