O presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia defendeu esta quinta-feira o alargamento da legislação para a redução de sal a outros grupos alimentares, nomeadamente produtos de charcutaria e bacalhau, em prol de uma melhor saúde cardiovascular dos portugueses.
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"A legislação devia abranger, essencialmente, tudo o que é produtos de charcutaria, extremamente ricos em sal, que além de aumentar o risco de hipertensão e de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), também é uma das causas de cancro do estômago e também agrava as doenças respiratórias, como a asma", disse à agência Lusa Manuel Carrageta.
"Uma refeição muito rica em sal numa pessoa que seja predisposta pode desencadear uma crise de asma", exemplificou o cardiologista, que falava à Lusa a propósito da entrada em vigor há um ano (12 de Agosto) do decreto-lei que define que o teor máximo de 1,4 gramas de sal por 100 gramas de pão.
Manuel Carrageta adiantou que outro problema na alimentação dos portugueses é o bacalhau, que deve ser muito mais demolhado.
Contudo, o especialista disse que estas medidas de saúde pública têm de ser "graduais". "No fundo o problema do sal é um problema das nossas papilas gustativas. Se nós reduzirmos 20 por cento de sal nos alimentos, não nos apercebemos porque em dois ou três meses habituamo-nos a esse nível de sal".
Para o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), "estas medidas de saúde pública são muito importantes. Ainda por cima, não custam dinheiro e reduzem a hipertensão e o número de AVC".
"São ganhos em saúde pública e não há gastos porque se poupa em medicamentos, em exames, consultas e hospitalizações. São medidas muito importantes que permitem benefícios da população em geral sem prejudicar ninguém", sustentou.
A FPC acrescenta que reduzir o teor de sal contido nos alimentos é uma medida simples, mas com forte impacto nos custos do Serviço Nacional de Saúde.
"Graças às medidas de diagnóstico e terapêutica actuais, há alguma redução das mortes por doenças cardiovasculares em Portugal, mas em contrapartida, o número de incapacidades é cada vez maior, o que representa custos muito elevados para o Estado", alerta a Fundação Portuguesa de Cardiologia.
As doenças cardiovasculares, que atingem meio milhão de portugueses, são a primeira causa de morte, doença, incapacidade e custos de saúde em Portugal. Diariamente, estas doenças provocam a morte a mais de cem portugueses, o que representa cerca de 35 por cento da mortalidade total anual, sendo as principais causas os acidentes vasculares cerebrais (AVC ou trombose) e o enfarte do miocárdio (ataque cardíaco).