A Comissão de Trabalhadores da RTP criticou a forma como está a ser preparada a introdução da Televisão Digital Terrestre em Portugal e exigiu um modelo alternativo que inclua mais canais digitais.
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Com a introdução da Televisão Digital Terrestre (TDT), cuja primeira fase arranca a 12 de Janeiro e em que se espera que a cobertura total de Portugal esteja concluída em Abril, as emissões televisivas passam a ser digitais, substituindo assim as analógicas.
Em comunicado, a Comissão de Trabalhadores (CT) da RTP considera que ao "decidir-se a atribuição do desenvolvimento da plataforma de TDT à única empresa em Portugal que não a poderia ter - a Portugal Telecom - está a perder-se uma oportunidade histórica para efectuar um salto gigantesco na qualidade e variedade do serviço televisivo prestado às populações".
Nesse sentido, a CT afirma tratar-se de "um verdadeiro escândalo económico e político com graves consequências sociais a curto, médio e longo prazo".
O órgão que representa os trabalhadores da RTP dá como exemplo a forma como a TDT foi introduzida noutros países da Europa, onde considera que esta tecnologia até foi "o catalisador de uma explosão de variedade de oferta televisiva".
Segundo dados da CT, Espanha tem 48 canais digitais (com a TDT), a Estónia tem 44, a Alemanha 53 e a Itália tem 70. Portugal terá quatro canais abertos em sinal digital com a TDT, ou seja, a RTP, RTP2, SIC e TVI.
"Portugal terá como triste distinção o facto de ser o país europeu com o menor número de canais esta plataforma", lamenta a Comissão de Trabalhadores, questionando a razão.
Para a CT todo o processo teve como objectivo a "defesa do bem privado, nomeadamente das operadoras de telecomunicações móveis", lamentando a "triste decisão de aceitar" que a PT, que fornece serviços de televisão paga com o Meo, "concorresse ao desenvolvimento desta plataforma".
Além disso, classifica de "incompetentes" as decisões políticas de "como a de assegurar a cobertura de uma percentagem de território em vez de assegurar a cobertura de uma percentagem de população".
O órgão tece ainda críticas às posições públicas de responsáveis da Anacom - Autoridade Nacional das Comunicações, em que apesar das evidências de prejuízos causados às populações, principalmente do Interior,", fizeram "defesa deste modelo de TDT e dos seus intervenientes, contra tudo e contra todos".
O CT acusa que "isso só pode explicar-se pela dolorosa evidência de que, em Portugal, o regulador do sector das telecomunicações é financiado por aqueles que regula".
Por isso, "os trabalhadores da RTP recusam-se a aceitar que o serviço público que prestam esteja a ser reduzido no seu teor ao mesmo tempo que é negado a mais de 1 milhão e 300 mil portugueses", exigindo "um outro modelo que integre os canais que actualmente existem e os que facilmente podem ser criados, tendo em atenção o interesse da população, e com cobertura total do território, de forma a garantir um serviço público de televisão e rádio".