<p>Amadu Kamara é-nos apresentado em plena rua, mas recebe-nos em zona de culto, já vestido a preceito. É o imã da mesquita Hazrat Bilal, a principal da cidade do Porto, o que significa pouco, arquitectonicamente falando. É o aproveitamento do rés-do-chão e da cave de um prédio, na zona oriental da cidade, que começa a ser exíguo, principalmente às sextas-feiras. </p> <p> </p> <p> </p>
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Há ideia de criar, de raiz, uma mesquita, associada a espaços de ensino e lazer, e paga com dinheiro do petróleo saudita, mas ainda não avançou.
"Não se pode dizer que se é muçulmano e não é praticante. Isso está fora do jogo", diz o clérigo oriundo da Guiné-Bissau, que fez estudos superiores no Cairo e está em Portugal desde 1991. Quando queremos que fale da comunidade, lança-se numa prédica apaixonada sobre os cinco pilares do Islão. Explica razões e virtualidades do jejum e, não esquecendo que está num mundo em que muitos olham de soslaio os muçulmanos, insiste na ideia de que Islão é paz: "Se todos os muçulmanos cumprissem a lei como deve ser, o gato e o rato dançariam juntos".
A mesquita não é escondida, mas não se dá por ela. Não se mostra. É uma loja em que é preciso tocar à campainha, mas toda a gente sabe onde fica e as relações de vizinhança são boas. Por exemplo, com o vizinho restaurante que mete no forno os frangos que a comunidade ali reunida pedir para assar. Qualquer um pode entrar, havendo até visitas escolares. "Um menino perguntou-me: padre, onde é que está o Bin Laden?", conta o imã, soltando uma gargalhada.
No Porto, os muçulmanos serão perto de três mil. Unidos pela religião, que não sofre desvios, mas muito diversos culturalmente. Magrebinos, guineenses, uzbeques, árabes, paquistaneses, indianos, do Bangladesh... e portugueses convertidos, que, garante o imã, "já sabem o Islão melhor do que os que nasceram nele".
Em vários cantos da mesquita/centro cultural islâmico, vêem-se víveres, pois haverá gente que ali se juntará todos os dias, ao longo do Ramadão, para quebrar o jejum posto esteja o Sol. Os que por algum motivo não o poderão fazer em casa juntam-se em assembleia, tanto ali como na mais pequena mesquita da Rua do Loureiro, onde a comunidade da Índia, Paquistão e Bangladesh é orientada por um imã daqueles lados: Idris, que vende artigos orientais na Estação de S. Bento.
Todos por ali vendem, como Muhammed Shah Alam, que veio do Bangladesh em 1992 e tem nacionalidade portuguesa. Na loja atulhada temos as cores do Industão, mas “quase tudo” vem da China. É a vida, é o negócio, que garante não ser afectado pelo Ramadão. Já ali houve mais gente de tais paragens: “Agora somos menos. Com a crise e o desemprego, muitos abandonaram Portugal”.