<p>Raul Magalhães e Beatriz Magalhães foram dar sangue pela primeira vez. Ele, o pai, "andava há muitos anos para o fazer"; ela, a filha, de 18 anos, "andava desde os 16 anos à espera de fazer os 18 para poder dar".</p>
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"Fui eu que a acordei para ela vir", diz o pai bem disposto. Mas, na verdade, a ideia foi da filha. Chegaram na hora certa, o apelo feito recentemente pelo Ministério da Saúde foi a pedra de toque e as circunstâncias ajudaram. "Eu hoje não tinha aulas", diz a filha. "E eu não trabalhei", ajuda o pai.
Ao lado, aqui no Centro Regional de Sangue do Porto, está uma fila de pessoas. Esperam calmamente a sua vez e todos, sem excepção, dizem uma coisa: "Hoje damos, amanhã precisamos".
Assim o diz, por exemplo, o senhor Mendes, com quase 60 anos, que quando andava na tropa deu sangue, mas que, ultimamente, isto é, durante uns anos, andou esquecido. "Um dia, já há algum tempo, vi o cartão, daqueles tempos e lembrei-me. Voltei a dar. E sinto-me bem. Sabe, um dia damos, no outro precisamos. É, antes de mais, um dever", afirma. O senhor Mendes passou bem a mensagem aos filhos, já que tem dois e os dois dão sangue. "Um até dá plaquetas", orgulha-se.
Paulo Barbosa, 42 anos, na mesma fila, também à espera, garante que dá sangue há mais de 15 anos. "Começou por brincadeira e depois continuei. Nunca mais parei de dar". Ao lado, o filho atalha dizendo que "faltam apenas sete anos para poder dar". Hugo está à espera de fazer os 18 anos e para ele é uma certeza que será dador: "Sim, já só faltam sete anos".
Zulmira Pinto não pode dar, mas veio acompanhar o marido. Não lhe custa a espera e diz que ouviu o apelo e ficou comovida. "Até ouvi dizer que em Lisboa fazia muita falta. Custa muito ouvir isso. Se a gente pode dar, deve dar". A filha adolescente acena com a cabeça, mas ainda não tem a idade certa para dar. "Estou à espera".
E à espera estavam muitos mais dadores para ser atendidos. Nenhum deles parecia incomodado com isso. "É por uma boa causa, senhora".