O presidente da Comunidade Vida e Paz alertou, esta sexta-feira, que as comunidades terapêuticas para toxicodependentes e alcoólicos estão a atravessar graves problemas financeiros devido aos cortes, havendo mesmo algumas a entrar em rutura.
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A declaração foi feita durante as II jornadas da Comunidade Vida e Paz (CVP) dedicadas ao tema "Voluntariado - 23 anos a criar rumo nas vidas das pessoas sem-abrigo".
Também no caso da CVP , os cortes sentem-se nos apoios às comunidades terapêuticas. Jorge Santos sublinhou que a actividade pode ser afectada, sobretudo na recuperação terapêutica, na inserção social e formação profissional.
A instituição tem duas comunidades terapêuticas com 127 camas convencionadas com o Estado e, segundo Jorge Santos, também terão "problemas a curto prazo se não houver da parte do Estado a emissão dos termos de responsabilidade", aludindo aos protocolos com as instituições.
Também adiantou que a instituição não pode deixar de admitir as pessoas com problemas de toxicodependência e de álcool, "atendendo à situação em que se encontram", mas como não tem capacidade financeira fica "atada de pés e mãos".
Segundo o responsável, "os cortes mensais são na ordem das dezenas de milhares de euros" e as despesas são muitas. "Temos um corpo técnico a quem temos de pagar, além das outras despesas. É certo que temos apoios de benfeitores mas é insuficiente", lamentou.
Esses cortes também vão afectar o trabalho de recuperação e reinserção social. Todas as noites, 56 equipas, constituídas por cerca de 600 voluntários, param em 96 pontos da cidade de Lisboa e contactam com cerca de 465 sem-abrigo com o objectivo de os motivar a mudar de vida.
Para o responsável, "é inegável que o Estado português e a própria União Europeia, no âmbito da problemática dos sem-abrigo, tem lançado planos audazes e muito bons", mas também e necessário um maior apoio da sociedade.
Presente na abertura das jornadas, o cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo salientou o papel do voluntariado e a formação técnica destas pessoas. "Fizeram-se nos últimos anos muitas actividades de formação técnica e de preparação dos principais grupos voluntários mas eu tenho notado que essa formação faz resvalar o voluntariado para um certo direito à remuneração", alertou.
D. José Policarpo sustentou que, às vezes, a preparação técnica "está muito perto de uma habilitação profissional e isso pode deslizar se não for defendido o essencial do voluntariado como dom de si mesmo".