Obstetra Luís Graça critica a abertura de serviços de obstetrícia em novos hospitais. "Vai ser uma tragédia", alerta.
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"É queimar recursos e a possibilidade de termos hospitais com serviços de obstetrícia suficientemente idóneos. Nunca foram paredes nem máquinas que trataram doentes, mas sim os profissionais de saúde. Estar a dispersá-los por uma quantidade de unidades que não têm sentido vai ser uma tragédia", considerou Luís Graça em entrevista à Agência Lusa.
Desde a semana passada, tem sido noticiado o esvaziamento dos serviços de ginecologia e obstetrícia do Hospital Garcia de Orta, em Almada, de onde vários especialistas transitaram para outras unidades, como o novo Hospital de Cascais (unidade pública com gestão privada).
"Faz-me muita impressão que continuem a abrir serviços de obstetrícia nos hospitais públicos ou público-privados, como o Hospital de Cascais", declarou Luís Graça, que há nove anos dirige o serviço de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
O especialista lembrou que a natalidade "está a baixar significativamente em Portugal" e que o número de ginecologistas/obstetras é "muito inferior às necessidades".
Luís Graça estima que só no Hospital de Santa Maria se realizem este ano menos 300 ou 400 partos do que no ano passado, numa unidade que deveria realizar anualmente cerca de três mil partos.
"A breve trecho está previsto abrir o hospital de Vila Franca de Xira e o Hospital de Loures, também com serviços de obstetrícia. Considero isto deitar dinheiro pela janela fora, existindo na área da Grande Lisboa serviços de obstetrícia mais do que suficientes para a natalidade nacional e existindo uma brutal carência de recursos médicos dentro desta área que não será colmatada antes de 2017/2018", sublinhou Luís Graça.
Para o obstetra, trata-se de serviços nos hospitais que "são absolutamente desnecessários".
"Estamos a multiplicar os locais que podem ter partos, o que leva a que nenhum deles tenha a massa crítica necessária para funcionar como deve ser", criticou o ex-presidente do colégio de Obstetrícia da Ordem dos Médicos.
Quanto ao caso concreto do Garcia de Orta, confessou-se "perplexo", considerando que se comprometeram dois serviços de obstetrícia, uma vez que "os recursos humanos foram quase divididos ao meio".
"Isso vai comprometer o Garcia de Orta e o Hospital de Cascais", explicou.