<p>Médicos britânicos querem a proibição do fumo dentro dos carros, nos parques infantis e em espaços públicos frequentados por crianças. Especialistas portugueses concordam, mas duvidam da aplicabilidade.</p>
Corpo do artigo
São mais de dois milhões as crianças inglesas expostas ao fumo passivo e que correm um risco acrescido de sofrer de doenças graves. É o que dizem vinte dos mais prestigiados médicos britânicos que, numa carta publicada hoje, quarta-feira, pelo “Times”, asseguram que, anualmente, há 20 mil casos de infecções respiratórias, 120 mil otites e 200 casos de meningite bacteriana atribuídos aos efeitos da exposição ao fumo passivo nas crianças.
Ivone Pascoal, pneumologista da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, concorda com a proibição desde que “devidamente fundamentada e explicada às pessoas”. Até porque os peritos têm argumentos que poderão colher facilmente junto dos pais.
“As crianças correm, hoje, um maior risco de exposição”, explicou a pneumologista responsável pela consulta de Desabituação Tabágica do Centro Hospitalar de Gaia ao JN. “Com a proibição do fumo nos espaços públicos fechados, os fumadores refugiam-se, agora, mais em espaços privados, como os carros”.
O fumo passivo é a principal causa evitável de doença e morte nas crianças, alertam os especialistas, que consideram urgente a adopção de estratégias para reduzir o fumo dentro e fora das casas. E apontam um caminho: a subida do preço do tabaco, campanhas de sensibilização e a melhoria na prestação de serviços de cessação tabágica. “A proibição não pode ser uma medida isolada”, alerta Ivone Pascoal.
Para Agostinho Marques, director do serviço de Pneumologia do Hospital de S. João, no Porto, o sucesso da aplicação da lei anti-tabágica em Portugal e noutros países europeus abriu caminho a discussões mais arrojadas. Apesar de serem inequívocas “as vantagem categóricas” de não se fumar na presença de crianças dentro de um espaço tão exíguo como o de um automóvel, Agostinho Marques considera que “não se deve legislar até esse ponto”. “É preciso perceber de que forma é que seria possível fazer cumpri a lei... Quando se faz uma lei o importante é que se possa executar”, sublinhou o especialista.
O que os especialistas ingleses aconselham é uma actualização da lei de proibição do fumo em locais públicos fechados, introduzida primeiro na Escócia, em 2006 e, no ano seguinte, no resto do Reino Unido. Apesar de considerarem a aplicação da lei “altamente eficaz”, há "lacunas que precisam ser combatidas". A legislação em vigor já deveria abranger os veículos utilizados para trabalhar, mas raramente foi cumprida, adiantam, ainda, os peritos. Por perceber, está, ainda, de que forma é que as autoridades poderiam fiscalizar o cumprimento da lei ou a sanção a aplicar aos fumadores que transgridam a lei.