A entrevista com o bispo do Porto tinha uma condicionante: o essencial da conversa teria como pano de fundo uma série de assuntos que foram primeira página no JN nas últimas semanas. Ou seja, D. Manuel Clemente foi forçado a analisar uma série de temas da actualidade. Não se furtou a nenhum, nunca deu sinal de hesitação e demonstrou que é um homem atento a todas as dimensões da vida social. Deixou os seus alertas, também ao Governo, mas sem nunca apontar o dedo. Senhor de um discurso claro, sem dramatização.
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O que sentiu na semana passada quando implodiu a primeira torre do Aleixo?
Passei um pouco antes pela marginal e reparei nas muitas pessoas que esperavam com expectativa. É um sinal de mudança e, tanto quanto eu ouvi, houve todo o cuidado da Câmara do Porto para que essa mudança se desse com o mínimo de danos sociais. É uma outra coisa que vai nascer ali e isso significa uma mudança estrutural naquela parte da cidade e, sobretudo, uma ocasião, que espero que seja aproveitada, para uma outra integração social das populações.
No JN de hoje (quarta-feira passada) noticiamos a última vaga de medidas da troika, que permitirão despedir com mais facilidade e com menos garantias para os trabalhadores. Ficámos também a saber que as urgências hospitalares podem chegar aos 50 euros. Estamos ainda num modelo em que paga quem pode pagar ou já entrámos num novo modelo em que só quem tenha posses terá garantido o acesso aos cuidados de saúde de qualidade?
Seria um perigo, seria um perigo... Há certo tipo de medidas, também no campo laboral, que se praticam em países da Europa que são capazes de superar lacunas, porque as pessoas vivem melhor. Em Portugal, todo o cuidado é pouco. Esse tipo de medidas devem ser acompanhadas por outras que garantam a dignidade mínima das populações: no que tem a ver com a habitação, com a saúde, com a alimentação, com tudo o que é o sustento de uma família. Isso não pode estar em causa. Se estiver, seria a sociedade que ficaria em grave risco de sustentabilidade.
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