Pais preocupados com duas maneiras diferentes de escrever em manuais escolares
Milhares de alunos vão começar a aprender uma nova ortografia do português, mas as associações de pais estão preocupadas com a possiblidade de, por causa da crise, o próximo ano ser "letivo" para uns e "lectivo" para outros.
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O presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), Albino Almeida, disse à agência Lusa que só no fim do primeiro período se verá que problemas existirão devido à forte possibilidade de existirem na mesma sala de aulas livros com grafias diferentes.
Mas admitida essa possibilidade, do lado dos docentes não parecem existir preocupações: "não antevejo grandes problemas, vamos entrar numa fase de adaptação, transitória, mas da parte das escolas houve um trabalho de preparação bem feito", disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Professores, João Grancho.
Albino Almeida prevê que "centenas ou milhares" de alunos façam o ano com manuais do ano passado, sem o novo acordo ortográfico, uma circunstância agravada pela crise económica.
"Vemos com preocupação a situação, sabemos que há muitas famílias a pedirem manuais emprestados. Este ano, cerca de 18 mil famílias deixaram de ser elegíveis para o apoio social", indicou.
O presidente da Confap acrescentou que "há autarquias que costumavam subsidiar a compra dos manuais que estão a dizer 'comprem-nos e nós depois reembolsamos'", mas que um investimento de centenas de euros em manuais está fora de questão para os rendimentos de muitas famílias.
A presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, admite que pode haver "algumas confusões" e que a coexistência de manuais diferentes na mesma sala de aula vai originar alguma preparação por parte dos professores.
"Tudo o que é novo implica reflexão, estudo e os professores vão ter que se preparar, vai ser complicado pôr toda a gente a escrever, mas não são assim tantas as alterações", acrescentou.
Edviges Ferreira referiu que "é evidente que os livros de grafias diferentes vão coexistir, mas os professores vão ter de chamar a atenção para a maneira correcta de escrever" segundo o novo acordo.
O novo acordo estará em todos os livros adoptados este ano para o primeiro e segundo ano do primeiro ciclo do Ensino Básico.
Segundo uma das principais editoras do sector do livro escolar, a Porto Editora, a assimilação da nova maneira de escrever nos manuais "está a decorrer tal como foi definido, em 2010, pelo Ministério da Educação em articulação com a Comissão do Livro Escolar da APEL, num calendário que terminará no ano lectivo de 2014/2015".
O responsável pela comunicação da Porto Editora, Paulo Gonçalves, indicou que a adopção faseada visa "minimizar os custos para as famílias, autarquias, livrarias, bibliotecas escolares e editoras, evitando desperdícios desnecessários".
No quarto ano do Básico, os manuais de Matemática já deverão ter a nova ortografia, tal como todos os do quinto - menos Educação Física, Educação Musical, Educação Visual e Tecnológica.
Quanto ao sexto ano, os alunos já vão aprender em livros adaptados ao novo acordo em todas as cadeiras excepto as de Língua Portuguesa, Educação Física, Educação Musical e Educação Visual e Tecnológica.
Paulo Gonçalves lembrou que nas salas de aula, os livros na grafia que será substituída pelo novo acordo continuarão a ser utilizados pelos professores e alunos, da mesma forma que nas bibliotecas, nas livrarias e em muitos outros sítios continuarão a coexistir livros com a "antiga" e a "nova" ortografia".