A investigadora Inês Amaro afirmou, esta segunda-feira, que as políticas de austeridade têm tido uma "enorme implicação" no serviço social, porque tornaram "mais difícil" garantir os direitos básicos de vida a quem precisa.
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Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial do Serviço Social, que se assinala na terça-feira, Inês Amaro adiantou que estas medidas também têm grandes implicações "nas exigências que são feitas hoje aos serviços sociais e aos assistentes sociais".
"Desde logo porque se tornou mais difícil trabalhar numa perspetiva de garantir direitos básicos de vida, como o acesso ao rendimento condigno, à habitação e à educação", explicou a autora do livro "Urgências e emergências do serviço social".
Por outro lado, tem havido uma certa tendência para as medidas de política social estarem a tomar "uma forma mais assistencialista e menos protetora dos direitos", adiantou.
Para a especialista em serviço social, promove-se mais a existência de respostas como as cantinas sociais do que "políticas que garantam que as pessoas tenham um rendimento adequado para terem uma cidadania plena" e acesso a oportunidades de trabalho e de formação.
"Já não há tantos direitos universais", promove-se mais "os direitos condicionados", em que os benefícios apenas estão disponíveis para algumas pessoas quando estão em situações de dificuldade.
Esses benefícios também têm vindo a ser reduzidos nos últimos anos devido às "políticas restritivas" relativamente a prestações sociais, como o subsídio de desemprego e o Rendimento Social de Inserção (RSI).
"Há um aumento das necessidades ao mesmo tempo que há uma redução da disponibilidade para responder a essas necessidades", lamentou Inês Amaro, do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa.
Sobre os desafios que a profissão enfrenta, a investigadora apontou o facto de estar assente atualmente em modelos de desenvolvimento com "valores que são contrários aos valores do próprio serviço social".
"O serviço social é uma profissão que tem como dois grandes pilares os direitos humanos e a justiça social e nós hoje podemos advogar que as sociedades em que vivemos não estão assentes nestes valores", que são "muito facilmente" atropelados se o que estiver a defender-se for o interesse económico.
"Isto é o que temos vivido todos os dias em Portugal, na Europa e no resto do mundo. É conseguir viver com esta ambivalência, com este paradoxo de termos uma sociedade que se tornou quase anti-humana, estando assente em valores que não se dirigem ao bem-estar e à felicidade da humanidade como um todo e contrário à matriz em que assenta o serviço social", sustentou.
Outro desafio que o serviço social enfrenta é conseguir formar em três anos e meio "profissionais capazes de entender esta complexidade e de agir neste panorama tão complexo e tão difícil".
Segundo Inês Amaro, as escolas têm feito "um esforço muito intenso de adaptarem as formações às novas realidade" e de trabalhar com estudantes as mudanças ocorridas ao nível das políticas sociais as implicações que têm.
O Dia Mundial do Serviço Social tem este ano como tema "Promover a dignidade e o valor das pessoas".