Tensão nas escolas entre professores que querem fazer prova e os que protestam
Foram várias as escolas onde, esta quarta-feira de manhã, professores e alguns estudantes universitários fizeram "piquetes" contra a realização da Prova de Aptidão de Competências e Conhecimentos. Um pouco por todo o país, houve focos de tensão que, em alguns casos, obrigou à intervenção das forças policiais. O JN acompanhou os protestos em várias cidades do país.
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Na terça-feira, o Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal diferiu uma providência cautelar interposta pela federação. O ministério, depois de garantir que não tinha sido citado pelo tribunal, esclareceu, já esta manhã, que afinal apresentou uma resolução fundamentada antes do início da realização da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, pelo que ficaram suspensos os efeitos suspensivos associados à receção da citação, processo habitual que se verificou em relação a outras providências cautelares", refere uma informação do Ministério da Educação e Ciência (MEC).
A informação do MEC chegou depois de ter começado a prova de avaliação dos professores, que estava agendada para as 10.30 horas.
Mário Nogueira, da Fenprof, manifestava, antes do início das prova, a esperança de que a providência cautelar impedisse a realização do exame. Mas por todo o país, milhares de professores dirigiram-se às escolas. Uns para realizar o exame e outros para protestar.
Tensão em todo o país
À medida que os docentes entravam na Escola Básica Marquesa de Alorna, em Lisboa, para fazerem a prova, os dirigentes davam conta de escolas onde não se vai realizar o exame, como a Básica Infante D. Henrique, em Viseu, a EB 2,3 de Vouzela e o Agrupamento de Escolas das Piscinas dos Olivais, em Lisboa.
Nenhum dos 120 professores inscritos para fazer a prova na Marquesa de Alorna realizou o exame. Os professores contratados "que iam fazer a prova mobilizaram-se e não a fizeram a prova", disse o professor vigilante Francisco Janeiro. "Aparentemente, apenas havia um professor interessado em fazer a prova, mas os colegas" conseguiram desmotivá-lo e acabou por não fazer.
No Porto, o exame decorreu sem problemas na Escola Secundária Aurélia de Sousa, com professores em número suficiente para fazer a vigilância da prova.
Na Filipa de Vilhena, à hora marcada para o início da prova, os professores foram divididos em dois grupos, um que deveria realizar exame no auditório, o outro no refeitório, por falta de docentes em número suficiente para fazer a vigilância.
Os docentes que estavam no refeitório, considerando que não tinham condições para fazer a prova, invadiram o auditório, impedindo a realização do exame naquela escola. A direção da escola assumiu que não estavam reunidas condições para a conclusão da prova.
Em Almada, a polícia de intervenção foi chamada à Escola Secundária Emídio Navarro, mas não há indicação de terem entrado no estabelecimento.
Na escola secundária do Restelo a prova também não se realizou, assim como na D. José I, em Lisboa.
Na Escola Afonso III, em Faro, só havia dois vigilantes para a prova e a direção decidiu reencaminhar os professores para o ginásio, que estava preparado para a festa de Natal. Foi pedido aos alunos dos cursos de educação e formação para arrumarem a sala, mas estes colocaram as mesas ao contrário e a prova não se está a realizar.
Na Escola Secundária de Amares não se realizou a prova. A situação foi confirmada por Pedro Cerqueira, diretor do agrupamento de Escolas de Amares.
Ao que tudo indica, e segundo informações recolhidas junto do diretor, "não se reuniram condições mínimas" para os professores iniciaram o exame. "Havia muito ruído por parte de quem contestava a prova e alguma agitação", descreveu ao JN Pedro Cerqueira.
Situação que levou à anulação da prova, confirmando desta forma um boicote total nesta escola.
Em Celorico da Beira, a inspeção geral da educação terá sido chamada por todos os professores do quadro estarem a fazer greve e não haver vigilantes para a prova.
Alberto Sampaio, André Soares, Sá de Miranda e Dona Maria II são as secundárias em Braga que têm visíveis faixas de protesto e palavras de ordem como "Não à Prova" ou "Humilhação".
A PSP já marcou presença em algumas escolas. "Mais com o intuito de prevenção. Estão a fazer o seu trabalho", diz Francisco Rodrigues, que em Braga coordena o movimento "Boicote e Cerco Prova" dos professores.
Em Coimbra, os professores montaram um acampamento à frente da Escola Infanta Dona Maria, em Coimbra, às 19 horas de terça-feira, e prometeram um cordão humano pela manhã, para tentar boicotar a prova de avaliação.
Em Beja, na Escola Secundária D. Manuel I, foram incendiados exames e as chamas fizeram disparar os alarmes do ginásio onde iriam decorrer. Foram convocados 192 professores para realizar os exames e 180 docentes para vigiar as provas, mas apenas 11 se disponibilizaram para o fazer. A tensão entre os que querem fazer a prova e os que não deixam os colegas fazê-lo obrigou à chamada da polícia. No local estão o comandante e o segundo comandante da PSP de Beja.
A prova de avaliação dos professores não se realizou na escola Morgado Mateus, em Vila Real, depois de um grupo de docentes em protesto ter demovido os colegas de entrarem no recinto escolar. Eram cerca de 380 os professores que estavam inscritos para realizaram a prova de avaliação de conhecimentos nas escolas secundárias Morgado Mateus e São Pedro, na cidade de Vila Real.
Carlos Taveira, dirigente do Sindicato dos Professores do Norte, disse que nenhum dos professores inscritos na Morgado Mateus fez a prova, enquanto apenas nove estão a efetuá-la na escola São Pedro.
No total, mais de 13 mil professores, com menos de cinco anos de experiência letiva, deverão fazer, esta quarta-feira, uma contestada prova de avaliação de conhecimentos, no mesmo dia em que os sindicatos da Fenprof marcaram uma greve que, espera a organização, terá uma adesão total.
"A não realização da prova pelos professores sem vínculo, em função da realização da greve, é a única possibilidade de não se penalizar nenhum professor", explica o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira.