Com uma amplitude de movimentos que a mão humana jamais terá, os robôs já dão cartas nos blocos operatórios.
Corpo do artigo
No final de novembro e em dezembro, o Hospital Curry Cabral, em Lisboa, fez duas intervenções cirúrgicas inovadoras - uma inédita no país e outra no Mundo - com a ajuda de um robô.
A primeira foi ao cancro da cabeça do pâncreas, uma intervenção normalmente complicada que, neste caso, culminou numa dupla vitória: maior precisão de movimentos da equipa médica e menor dor para o doente.
30 cirurgias torácicas robóticas já foram feitas no Centro Hospitalar Lisboa Central. A primeira foi a 24 de março de 2022 e a última a 5 de janeiro deste ano.
"É uma operação menos agressiva, que não exige uma cicatriz tão grande", explicou Hugo Pinto Marques, diretor do Serviço de Cirurgia e da Unidade de Transplantação do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, rendido à "amplitude de gestos" que o Da Vinci (que começa agora também a ser usado no São João, no Porto) permite.
"A recuperação é mais rápida e, aparentemente, a taxa de complicações pode ser menor", acrescentou, defendendo que, na cirurgia robótica, "Portugal não está na cauda da Europa, está na linha da frente".
A equipa de Hugo Pinto Marques fez ainda a primeira operação do Mundo com robô a um cancro das vias biliares (com reconstrução vascular). "Há cerca de 100 doentes operados a este tipo de tumores em todo o Mundo", contou, confiante de que a robótica será "importantíssima" no futuro da saúde.
O especialista realça, contudo, a importância da formação. O Curry Cabral recebeu o robô há três anos, "houve formação, mais de 50 horas de simulação e treinos noutros centros da Europa".
No Grupo HPA Saúde, no Algarve, também há um robô-estrela, usado para o tratamento da hiperplasia benigna da próstata (aumento do volume da glândula da próstata com consequente compressão da uretra e queixas urinárias). É uma doença que afeta mais de metade dos cidadãos com 50 anos.
Ganhar tempo
"Não sendo maligna, condiciona muito o dia a dia. Um homem que se levanta cinco vezes durante a noite para urinar não consegue descansar, tem má qualidade de vida. E outro que não consiga segurar a urina começa a ficar refém da sua casa", notou o urologista Tiago Rodrigues.
Com o robô Aquabeam é possível fazer a ablação do tecido prostático com um jato de água de altíssima velocidade e pressão, em cerca de seis minutos (antes demorava pelo menos 45) e sem energia térmica. Isto faz com que 97% dos pacientes consigam manter a ejaculação, quando, no método antigo, quase não era possível preservar a vida sexual.
Apesar de reconhecer que "o robô é 100% dependente do homem", Tiago Rodrigues não esconde a satisfação. "Nas aulas que dou, costumo dizer que as cirurgias robóticas vieram permitir ao cirurgião fazer o que quer e não só aquilo que consegue".