Parceria máquina-homem torna hotéis e restaurantes atrativos. Os holofotes estão, contudo, voltados para um chat "sabe tudo" que divide opiniões.
Corpo do artigo
À sua passagem, erguem-se os telemóveis. Ninguém quer falhar a foto ao empregado de mesa do City Wok I, no Porto, que, não sendo de carne e osso, sabe o que fazer: levar as refeições a cada cliente. Os robôs começam a conquistar os negócios e já brilham na saúde, mas a grande surpresa do momento é o ChatGPT.
Lançado em novembro pela empresa americana OpenAI, dedicada à pesquisa sobre inteligência artificial, consegue produzir textos e responde a pedidos do utilizador sobre qualquer tema. A recém-nascida aplicação acendeu campainhas, questionando-se se poderá ameaçar uma série de profissões criativas.
"É surpreendente e assustador", admitiu Rui Ramos, investigador do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social (CoLABOR), confirmando o desconforto de certas profissões com esta ferramenta, por exemplo da área do copywriting. Ainda assim, prefere vê-la como aliada. "Uma revisão de literatura não pode ser facilitada por algo assim? O chat faz metade do trabalho, mas faltará sempre a parte do espírito crítico".
De resto, "o que tem sucedido é que os empregos ou as tarefas repetitivas tendem a ser automatizadas". "Aparecem outras, há readaptação". Aqui, o investigador lança outra questão: até que ponto é que a revisão literária de que falávamos não pode ser considerada uma tarefa repetitiva e suscetível de ser automatizada? "Podemos estar a assistir a uma transformação do espectro dessas tarefas", reconheceu, ressalvando que, "felizmente, há coisas que só o ser humano consegue fazer". O importante, acrescentou, é que "haja políticas públicas das organizações e do Governo para preparar a readaptação das pessoas". Se as há, "já é outra história".
Exemplo da espiral de destruição e reconstrução de empregos é a Uber, que "apareceu, alterou a organização do trabalho nos transportes urbanos - retirando espaço aos taxistas - mas criou novos empregos". "Quando houver robôs a conduzir carros - já há, mas o custo é elevado -, não me surpreenderá que estes motoristas desapareçam", apontou.
O trabalho a mudar
Em 2019, um estudo da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, de 2019, dava conta de que, até 2030, Portugal poderá perder 1,1 milhões de postos de trabalho por força da automação, devido ao peso da indústria transformadora e às tarefas repetitivas em diversos setores. Em sentido inverso, aponta a mesma investigação, o crescimento económico resultante poderá criar entre 600 mil e 1,1 milhões de novos empregos nas áreas da saúde, assistência, social, ciência, profissões técnicas e construção.
Ao contrário do que acontece nas grandes indústrias, a presença dos robôs nos restaurantes e hotéis não representa, para já, uma ameaça. "Os robôs estão a ser usados para substituir trabalhadores ou como estratégia de marketing?", questionou Rui Ramos.
O sócio-gerente do City Wok I, Yue Bin Lin, não tem dúvidas. "Substituir os funcionários por máquinas? Nem pensar". Este robô, que desliza seguro pelo espaço num vaivém repetitivo, não é caso único. Existem cerca de 20 semelhantes em Portugal, vendidos através de Espanha porque cá ainda não havia quem os implementasse. Trabalho que já começou a ser feito pela empresa de tecnologia Beltrão Coelho. "Isto da robótica é recente", explicou Bruno Coelho, responsável de robótica da instituição. Pelas mãos da empresa nasceram a Yolinda e o Yogiro que asseguram a assistência aos quartos no Yotel Porto. "Tê-los liberta os funcionários, disponíveis para dar mais atenção ao cliente. Pode colmatar-se a necessidade de mão de obra existente em hotelaria e restauração", notou.
Inteligência Artificial assusta profissões
Educação
Professores olham com desconfiança para aplicações como o ChatGPT, que podem facilmente elucidar um aluno sobre um tema respondendo a perguntas.
Escrita
Romancistas temem que, numa versão aprimorada, o software consiga produzir livros.
Copywriting
A produção de textos persuasivos para ações de marketing e vendas também pode ser feita pelo ChatGPT.
Design gráfico
Lançado em 2021 pela OpenAI, o DALL-E cria imagens apenas com descrições textuais, aumentando os desafios do design gráfico e criativo.