Pacientes tratados com "lecanemab" apresentaram melhorias de quase 30%. Resultados mostram que o medicamento poderá "mudar, de forma significativa, o curso da doença", mas ainda há várias questões associadas aos efeitos secundários.
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Um medicamento experimental contra a doença de Alzheimer das farmacêuticas Eisai e Biogen conseguiu atrasar o declínio cognitivo, podendo, contudo, ter efeitos secundários graves em alguns pacientes, de acordo com os resultados de um ensaio clínico apresentado na terça-feira.
Segundo detalha a agência Reuters, o medicamento, chamado "lecanemab", surge também associado a um tipo perigoso de inchaço cerebral em quase 13% dos inscritos no estudo, que durou 18 meses, contando com a participação de 1800 doentes com Alzheimer em fase inicial (metade deles recebeu o tratamento e a outra metade um placebo). De referir que alguns pacientes tiveram também hemorragias cerebrais.
Os resultados da investigação confirmam, ainda assim, a premissa avançada em setembro: o tratamento reduziu a taxa de declínio cognitivo na escala de demência clínica em 27%.
Apesar de reconhecer que todos os medicamentos focados na redução da proteína beta-amilóide envolvem um risco acrescido de hemorragia cerebral, Ronald Peterson, da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, considera que os resultados obtidos no ensaio são "muito impressionantes".
Citada pela Reuters, a Associação de Alzheimer dos EUA defendeu que o medicamento poderá "mudar, de forma significativa, o curso da doença", solicitando ao regulador americano que o aprove rapidamente. A decisão da "Food and Drug Administration" deverá ser conhecida até ao dia 6 de janeiro.
De um modo geral, os pacientes do ensaio clínico com "lecanemab" apresentaram melhorias de 23% a 37%". Dados que Paul Aisen, diretor do Instituto de Investigação Terapêutica da Universidade do Sul da Califórnia, considera suficientes para "justificar a aprovação completa". "Mas claro que queremos um benefício ainda maior", refere o coautor do estudo, publicado na "New England Journal of Medicine".
Aisen notou ainda que, provavelmente, o medicamento será mais vantajoso se administrado no início da doença, antes de se acumularem "danos irreversíveis suficientes para gerar sintomas".
Durante o estudo, foram reportadas duas mortes por hemorragias cerebrais: de uma mulher de 65 anos que recebeu um tipo de medicamento conhecido como ativador do plasminogénio tecidual para limpar coágulos sanguíneos depois de ter sofrido um AVC e de uma mulher de 87 anos que tomava o anticoagulante Eliquis. Segundo a farmacêutica Eisai, nenhum dos casos pode ser atribuído ao "lecanemab".