Uma equipa internacional de cientistas desenvolveu um spray que bloqueia o novo coranavírus no nariz e nos pulmões, é barato e não necessita de refrigeração. O tratamento foi testado com êxito em furões e aguarda-se que seja estudado em humanos.
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A investigação, desenvolvida por cientistas das universidades de Columbia e de Cornell, nos EUA, e do Centro Médico da Universidade Erasmus, na Holanda, foi descrita num artigo publicado no servidor "bioRxiv", esta quinta-feira. Ainda não foi revista por pares, mas já foi enviada à revista "Science" para isso. Entretanto, o estudo foi avaliado por vários especialistas para o jornal "The New York Times", que avançou a descoberta.
A ter o mesmo efeito em humanos, o spray, que os investigadores garantem não ser tóxico, será um grande passo na luta contra a pandemia. Um borrifo diário no nariz poderá funcionar como uma vacina contra o SARS-CoV-2. A equipa precisa agora de financiamento adicional para testar o produto em humanos, nota o jornal norte-americano.
O novo spray ataca o vírus diretamente, liga-se às células do nariz e dos pulmões e dura cerca de 24 horas. Contém um lipopéptido específico que corresponde exatamente a um fragmento de aminoácidos na proteína dos espinhos do vírus, que este agente infecioso usa para se ligar às vias aéreas ou células pulmonares dos humanos.
Os furões costumam ser usados em investigações relativas à gripe, ao SARS e a outras doenças respiratórias, porque podem ser infetados com o vírus através do nariz, da mesma forma que os seres humanos, embora também se contagiem através do contacto com fezes, de arranhões e mordidas.
No estudo, o spray foi aplicado a seis furões, divididos em pares e colocados em três gaiolas. Em cada uma destas, havia outros dois furões pulverizados com um spray placebo e um furão infetado deliberadamente com SARS-CoV-2 dias antes. Após 24 horas juntos, nenhum dos furões que recebeu o spray em teste contraiu a covid-19. Já os que receberam o placebo testaram positivo.
"A replicação do vírus foi completamente bloqueada", escreveram os autores. "Se resultar bem em humanos, será possível dormir numa cama com alguém infetado ou estar com os filhos infetados e estar a salvo", salienta a microbiologista Anne Moscona, co-autora do estudo.
A lipoproteína pode ser produzida de forma barata como um pó branco liofilizado que não precisa de refrigeração, segundo a cientista. Um médico ou farmacêutico pode misturar o pó com açúcar e água para produzir um spray nasal.
Peter Hotex, da Universidade de Medicina de Baylor, no Texas, considerou ao "The New York Times" a terapia "muito promissora". "Ter algo novo que funcione contra o coronavírus é emocionante", disse Arturo Casadevall, da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg.