Hipótese para governar passa por acordo com PS (nem Pedro Nuno nem Vasco Cordeiro revelam se irão viabilizar Governo minoritário) ou entendimento com o Chega de André Ventura.
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José Manuel Bolieiro, do PSD, venceu ontem as eleições regionais dos Açores mas falhou a maioria absoluta - que, ao início da noite, tinha sido dada como quase certa. Foi já depois das 23 horas que se soube que os sociais-democratas, que concorreram coligados com CDS e PPM, ficaram a três deputados dos 29 necessários para governarem sem o apoio de outros partidos. Assim, terão agora de tomar uma decisão que terá repercussões nacionais: vão recorrer ao Chega - que subiu de dois para cinco eleitos - para garantir a governabilidade, ou admitem um acordo com o PS? A resposta a esta pergunta poderá dar pistas sobre o que ocorrerá nas legislativas de 10 de março.
O líder do PSD, Luís Montenegro - que ontem conseguiu a segunda vitória eleitoral desde que está no cargo, após a Madeira -, tem garantido sempre que recusará acordos com a extrema-direita a nível nacional. No entanto, mal se soube que não haveria maioria absoluta nos Açores, o líder do Chega, André Ventura, fez uma leitura nacional dos resultados: à Direita, “nenhuma maioria é possível sem o Chega”, avisou, certo que o seu partido será decisivo.
Montenegro, que falou já perto da meia-noite, evitou este tema ao discursar antes do líder do PSD local, José Manuel Bolieiro. Após uma curta intervenção, passou a palavra ao líder social-democrata açoriano, fintando as perguntas dos jornalistas. Sobre a questão da governabilidade apenas disse, em tom irónico, que “só poderá haver um Governo alternativo a este” se “o PS e o Chega se coligarem”.
De olhos postos no dia 10 de março, Montenegro lembrou que houve sondagens a prever, nos Açores, “um resultado completamente diferente” do que acabou por verificr-se, em prejuízo da coligação que representa.
Minutos antes, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos - também ele a fazer a estreia em atos eleitorais enquanto líder -, tinha reconhecido a derrota. Questionado sobre se o PS fará algum acordo regional com a Aliança Democrática, respondeu apenas que irá “esperar pelas decisões dos órgãos regionais” do partido.
Vasco Cordeiro, líder do PS-Açores, recusou igualmente levantar o véu sobre o que se seguirá. Repetidamente questionado sobre os próximos passos, respondeu sempre aquele não era “o tempo nem o lugar” para falar nem de eventuais acordos nem da sua continuidade no cargo. Acrescentou apenas que uma maioria com o Chega “nunca foi rejeitada” por Bolieiro.
A três deputados da maioria
O PSD foi a estas eleições regionais coligado com CDS e PPM (criando a Aliança Democrática, à semelhança do que ocorrerá a nível nacional). Em 2020, o somatório desses três partidos - que, então, concorreram separados - foi 40,4%; agora, subiu ligeiramente, para 42,08%. Juntos, passaram de 25 para 26 parlamentares eleitos.
Há três anos, para conseguir governar, o PSD teve de fazer uma geringonça de Direita, na qual incluiu Chega e IL. Apesar da turbulência (um dos dois deputados do Chega passou a independente e o da IL desfez o acordo de apoio parlamentar, precipitando eleições), não pode dizer-se que os dois ex-parceiros dos sociais-democratas tenham sido prejudicados pelos eleitores. Pelo contrário: a extrema-direita quase duplicou o resultado (de 5,06% para 9,19%), os liberais mantiveram o deputado que tinham conseguido eleger, pela primeira vez, em 2020.
À Esquerda, nenhum partido fez melhor do que há três anos. O PS, que tinha vencido as últimas eleições regionais (embora sem a maioria necessária para conseguir formar Governo), caiu de 38,8% para 35,9%, passando a ser a segunda força política nos Açores. Ou seja, os socialistas não capitalizaram com o fim abrupto da legislatura regional.
Os líderes de BE, IL e PAN - respetivamente, Mariana Mortágua, Rui Rocha e Inês Sousa Real - também se estrearam em eleições regionais dos Açores. Os bloquistas tiveram uma noite amarga, caindo de dois para um um deputado em relação ao escrutínio de 2020. Tal como há três anos, IL e PAN elegeram um parlamentar cada.
A CDU, que tinha falhado, pela primeira vez, a eleição de um deputado regional em 2020, ficou a cerca de 80 votos de regressar ao Parlamento dos Açores. De fora ficaram ainda Livre, ADN e Juntos Pelo Povo.
Vencedores & Vencidos
Bolieiro: triunfo perto da perfeição
A noite até parecia que ia ser perfeita, mas a vitória não se estendeu a uma maioria absoluta. É, no entanto, um triunfo de grande dimensão para José Manuel Bolieiro, agora candidato pela AD depois de ter sido segundo em 2020 pelo PSD. Saiu reforçado e resta saber como irá gerir a vitória em termos de acordos.
Chega: mais que duplica deputados
O Chega teve a maior subida nestas eleições regionais, conseguindo subir de dois para cinco deputados. Isto deixa o partido de André Ventura como um importante fiel da balança para a governação do arquipélago. Ventura já disse que pretende um acordo.
Iniciativa Liberal: mantém presença parlamentar
A Iniciativa Liberal manteve o deputado no Parlamento açoriano e até teve uma ligeira subida em número de votos. Ficou ainda assim atrás do BE, mas esta formação perdeu um deputado.
Vasco Cordeiro: ambição de vencer saiu frustrada
Foi uma derrota inequívoca do PS. Vasco Cordeiro perdeu muitos votos e acabou por cair para o segundo lugar, o que trava qualquer ambição de regressar ao poder nos Açores. Os socialistas apostaram muito em agitar o perigo do Chega, o que parece não ter surtido grande efeito no eleitorado açoriano.
MPT/Aliança: obteve apenas quatro votos
A coligação de MPT e Aliança foi um rotundo fracasso, obtendo uma votação muito baixa. Encabeçada por José Arranhado, só concorreu em um dos 10 círculos eleitorais mas teve um resultado humilhante: apenas teve quatro votos.
CDU: falha regresso ao Parlamento
A CDU tinha como ambição regressar ao Parlamento dos Açores. Falhou o objetivo tendo obtido 1853 votos, insuficiente para alcançar a eleição de um deputado como já aconteceu no passado.