Com um baile feito à medida, no centro da Super Bock Arena, o coletivo criou um clima de festa que contagiou a plateia.
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Fevereiro é um mês colorido, enérgico, caloroso, que pede boa disposição e vontade de dançar, festejar a vida. Descrito assim, só pode ser um Baile de Carnaval e o deste ano estendeu-se pela noite dentro.
Na noite de sábado, a Orquestra Bamba Social regressou à Super Bock Arena, com novidades preparadas logo para o início. As portas abriram às 20 horas, já com muita animação, só possível pelo convite ao evento itinerante, Maracujália.
Aqui começou a marca da diferença, principalmente no alinhamento. No ano passado, o conceito passou pela apresentação de “Mundo Novo”, editado há dois anos.
Como até ao momento ainda não há temas novos a apresentar, “pensámos dar às pessoas vários momentos, com diferentes estilos musicais ao longo da noite”, partilhou ao JN Pedro Pinheiro, cofundador da Orquestra Bamba Social.
Ao voltar a lançar o convite à Maracujália, o coletivo permitiu uma maior partilha de diferentes sonoridades, bem evidente no primeiro concerto da noite, às 21 horas, com reggae e vinil, nas mãos de Baltazar. A roda foi logo a seguir, às 22 horas, onde 16 bambas se colocaram no centro da arena e animaram aos ritmos de alguns clássicos do samba.
O alinhamento esteve mais direcionado para a roda de samba, tanto com temas autorais, como clássicos e algumas reinterpretações novas.
Desde o primeiro momento que pisaram a arena, os músicos caminharam entre o público e, enquanto cumprimentavam caras conhecidas, a energia e entusiasmo já eram contagiantes. Ao subirem para o palco 360º, revelaram-se as fantasias de cada membro do coletivo.
A grande maioria do público acompanhou-os nos disfarces, nas fitas e serpentinas, principalmente no bom humor. Quando a bateria definiu o ritmo de entrada, o chão do Super Bock Arena vibrou com os pezinhos elétricos do samba.
Os temas eram de facto clássicos, que puxaram pela nostalgia, com “Zé do Caraço”, do Seu Jorge, o imperdível “Do jeito que a vida quer”, de Benito de Paula, e o inconfundível tema de Zeca Pagodinho que vibrou a arena, “Vai vadiar”.
O Carnaval “não é uma noite qualquer”. É daquelas festas que param no tempo, que explodem em cor e alegria. Já diz o velho ditado que no carnaval ninguém leva a mal e no Super Bock Arena boa disposição e espaço para dançar não faltou, mesmo com dois lotes de bilhetes esgotados.
A “fase embrionária” do projeto
Pedro Pinheiro, cofundador da Bamba Social, conheceu Tomás Marques nos Açores, após um concerto. Ao conhecerem-se melhor, os dois músicos encontraram rapidamente uma grande paixão em comum: o samba.
“Foi aí que decidimos que, quando chegássemos ao continente, íamos formar um grupo de samba, descomprometido, para tocarmos o que gostávamos”, relembra.
Assim que aterraram no Porto, juntaram alguns amigos e tocaram pela primeira vez no “ambiente acolhedor” do Baixaria. Primeiro, começou como todas as bandas e a necessidade de dar nome ao grupo.
“Nós queríamos um nome que se remetesse ao Samba, mas que não fosse óbvio. Então, um bamba normalmente é alguém que compreende da matéria. Enfim, é uma personagem emblemática do próprio samba. O Social porque queríamos criar um ambiente de festa, o que acabou por se revelar no conceito deste projeto”.
A estreia da Bamba Social foi precisamente no Carnaval de 2012, contando assim com uma dúzia de anos a contagiar o público com os ritmos elétricos e animados do samba. Nasceu a partir de seis elementos e ao longo dos anos foi crescendo, até aos 18 atuais.
Quando se aperceberam que enchiam a casa todas as semanas, com fila até à porta, sonharam mais alto e fizeram evoluir o projeto, com a complexidade musical gradual a obrigar à chamada de mais elementos.
Mais instrumentos possibilitaram comporem arranjos diferentes, o que levou a uma reestruturação do grupo, em que organicamente houve uma transição para orquestra. Isto possibilitou ainda a criação de duas formações, a clássica de uma orquestra em palco ou em roda de samba, o caso do Baile de Carnaval, em que a formação da orquestra não inclui dois elementos.
Família, Samba, Carnaval
Aos poucos, a Orquestra Bamba Social foi-se transformando numa autêntica família luso-brasileira-italiana e “todos juntos às vezes é uma bagunça saudável”. Formada por músicos das mais variadas origens, até por outros que têm outras carreiras. Dando um toque diferenciador, que se desenvolveu numa identidade.
“Não sei dizer. É uma questão mais pessoal. Acho que na vida nada é nosso. Podemos criar uma identidade, que foi o caminho por onde enveredamos, em que cada membro traz algo único, das suas próprias experiências de vida e bagagem musicais diferentes”.
Ao revisitarem clássicos do samba, mesmo mantendo-se fiéis à música, a musicalidade variada de tantos elementos permitiu "explorarmos diferentes arranjos, “a nova roupagem é, na verdade, apenas abordagens diferentes que damos aos temas”, diz.
Novo ano, novo álbum
No Baile de Carnaval, Pedro Pinheiro confirma ao JN que estão a trabalhar em paralelo ao carnaval, num novo disco em homenagem ao compositor Moacyr Luz. O cofundador adianta ainda que o lançamento está previsto para miados da primavera.
Em “Mundo Novo” o músico carioca de renome participou no tema “Sarapi” e convida o coletivo para o acompanhar nos concertos em Portugal. O coletivo irá interpretar alguns temas dele, incorporando arranjos diferentes. Prometendo ainda algumas surpresas e participações especiais.
Para o ano, Pedro Pinheiro espera que a tradição do Baile de Carnaval seja solidificada. Nunca deixando que expectativas sejam criadas, o próprio sabe que nesta altura do ano a Bamba Social vai estar sempre presente, mesmo que não seja na mesma casa.