Há mais crianças com obesidade e excesso de peso em Portugal. De acordo com os dados do COSI relativo a 2022, uma em cada três crianças tem excesso de peso e 13,5% sofrem de obesidade. Um aumento de 1,6 pontos percentuais na prevalência de obesidade infantil e de 2,2% na prevalência de excesso de peso desde 2019.
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Estes aumentos contrariam a tendência de decréscimo verificada nestes indicadores entre 2008 e 2019.
“Entre a primeira e a quinta ronda, o estudo COSI Portugal mostrou uma tendência ligeiramente invertida na prevalência de excesso de peso. No entanto, de 2019 para 2022, essa tendência alterou-se. Relativamente à prevalência de obesidade, verificou-se igualmente um aumento”, lê-se no documento relativo à 6.ª ronda, que será apresentado esta terça-feira e cujo estudo abrange mais de 6200 crianças matriculadas em 226 escolas.
De acordo com o estudo, cerca de 31,9% das crianças portuguesas apresentam excesso de peso. E a prevalência aumenta com a idade. Já 13,5% das crianças sofrem de obesidade infantil, sendo que o problema tem mais expressividade nos rapazes (14%) do que nas raparigas (13,1%). Já o excesso de peso é semelhante entre géneros (32,1% nas raparigas e 31,7% nos rapazes) Se esmiuçarmos os dados por regiões, os Açores surgem como a zona com maior prevalência de excesso de peso e obesidade infantil. Em contrapartida, é na região do Algarve onde se regista uma menor prevalência nestes indicadores.
Mais fruta e menos refrigerantes
No que toca aos hábitos alimentares, entre 2019 e 2022, o consumo diário de fruta aumentou para 71,2% e o consumo de refrigerantes açucarados diminuiu. Ainda assim, os dados mostram que 69,1% das crianças bebem refrigerantes açucarados. Há, ainda, 24,1% das crianças a comer snacks doces (biscoitos, bolachas, bolos ou donuts) quatro ou mais vezes por semana e 72,4% fá-lo até três vezes por semana. O leite magro ou meio gordo faz parte dos hábitos alimentares de 67% das crianças. O consumo diário de carne é mais frequente do que o de peixe.
Numa análise à atividade física e aos comportamentos sedentários, conclui-se que mais de metade das crianças deslocam-se de automóvel para a escola e a maioria está inscrita num clube desportivo. Durante a semana, a maioria das crianças brinca fora de casa uma hora ou duas horas por dia. Já quase metade das crianças abrangidas pelo estudo despendem cerca de uma hora por dia, durante a semana, para jogar no computador. Ao fim de semana, o número de horas passadas no computador aumenta para duas horas ou mais por dia.
Em ambiente escolar, a esmagadora maioria das crianças têm acesso a aulas de educação física. Os alimentos mais disponibilizados dentro das escolas foram o leite simples e/ou iogurte, a água e a fruta fresca. Há máquinas de venda automática de alimentos e bebidas em 2,7% das escolas abrangidas pelo estudo COSI.
Maior consumo de snacks na pandemia
A sexta ronda do estudo COSI inclui, através de um questionário feito às famílias, dados sobre o impacto da pandemia no consumo alimentar das crianças. De acordo com o documento, os snacks doces e salgados são os alimentos que os pais reportaram como tendo um maior aumento do consumo durante a pandemia. Em contrapartida, “os refrigerantes com açúcar constituem a categoria alimentar que registou o maior decréscimo do seu consumo por parte das crianças”
A covid-19 trouxe, também, uma maior partilha das refeições com a família, a compra de alimentos em grandes quantidades e a preparação de refeições em conjunto com a criança. Em sentido inverso, o consumo de refeições prontas encomendadas e pré-cozinhadas diminuiu.
Cerca de 49% das crianças aumentou o tempo despendido a ver televisão, a jogar computador ou utilizar redes sociais. Já 27,1% aumentaram o tempo passado a brincar. A nível nacional, o estudo indica que “as dificuldades financeiras das famílias aumentaram durante a pandemia, com o aumento do número de famílias a reportar ter dificuldade em chegar ao fim do mês sem grandes problemas ou relatar que o rendimento familiar não chega até ao fim do mês”.
Nutricionistas preocupados
O aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil preocupa a Ordem dos Nutricionistas. Para a bastonária Alexandra Bento, os dados “eram expectáveis e reforçam a necessidade urgente de intensificação de medidas para combater a obesidade infantil”. Alexandra Bento pede uma aposta na integração de nutricionistas nos cuidados de saúde primários. E alerta para o facto de “as escolas portuguesas continuarem desertas de nutricionistas”.
“A redução que o país conseguiu, na última década - entre 2008 e 2019 - relativamente a esta matéria, com uma tendência decrescente do excesso de peso e obesidade nas crianças, tornou-se uma otimista conquista. Infelizmente, constatar que estes dados já se encontram no sentido contrário, e que voltamos aos números de 2013, é sem dúvida preocupante”, frisou Alexandra Bento.