"Oppenheimer", de Christopher Nolan, conquistou o Oscar de Melhor Filme, somando um total de sete estatuetas na 96.ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos.
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Apesar de um empate técnico com “Pobres Criaturas” durante grande parte da cerimónia, “Oppenheimer” arrancou com uma parte final arrasadora, conquistando sete Oscars, um dos números mais significativos dos últimos anos, onde nenhum título se conseguira destacar dos restantes, nem mesmo o considerado melhor do ano.
Numa cerimónia com uma estrutura diferente do habitual, bastante mais dinâmica, com um horário diferente e apresentada com enorme elegância e eficácia pela quarta vez consecutiva por Jimmy Kimmel, foram poucas as surpresas, com a exceção da perda do Oscar de melhor atriz por parte de Lily Gladstone.
A atriz seria a primeira nativa americana a vencer a estatueta, já tinha vencido vários dos prémios anteriores e deixou o filme de Martin Scorsese, “Assassinos da Lua das Flores”, mais uma vez sem qualquer prémio.
Nesta categoria, o Oscar foi para Emma Stone, também produtora de “Pobres Criaturas”, ela própria visivelmente surpreendida com o prémio, conferindo uma quarta estatueta ao filme de Yorgos Lanthimos, que tem a participação da portuguesa Carminho, e alcançaria assim um claro segundo lugar nesta corrida aos Oscars.
A noite náo ficaria, aliás, sem uma referência a um português. A francesa Justine Triet, que partilhou o Oscar de Melhor Argumento Original com o marido, Arthur Harari, o único dos cinco a que estava nomeado, não esqueceu o elenco do seu filme, entre os quais o jovem luso-descendente Milo Machado, peça fulcral deste enigmático filme de investigação policial.
A fantasia de Lanthimos, variação original e feminina de meios do fantástico como "Frankenstein" ou "A Bela e o Monstro", vencera de início os Oscars de Direção Artística, Guarda-Roupa e Maquilhagem e Cabelos, parecendo dar luta à saga sobre a América de Christopher Nolan, ancorada no homem que criou a bomba atómica que iria pôr termo à Segunda Guerra Mundial.
No entanto, após os Oscars mais “técnicos” de Montagem, Fotografia, e Banda Sonora e da celebração de um Robert Downey Jr. como Melhor Ator Secundário, não tendo esquecido os seus anos de excessos, "Oppenheimer" venceria nas categorias de Ator, consagrando um Cilian Murphy que agradeceu os mais de vinte anos de colaboração com Nolan e dedicou o prémio aos fazedores de paz em todo o mundo, Realização e Melhor Filme do Ano.
Estava assim decidido, como esperado, qual dos lados do fenómeno "Barbienheimer" sairia vencedor da noite dos Oscars, com o filme sobre a boneca mais famosa do mundo a conquistar apenas uma das oito estatuetas a que estava nomeado, a de Melhor Canção Original, segundo Oscar para a jovem Billie Elish e o seu irmão, Finneas O’Connell.
O filme de Greta Gerwig seria assim ultrapassado ainda na contabilidade dos Oscars por “A Zona de Interesse”, com Jonathan Glazer a bater Wim Wenders e o seu magnífico “Dias Perfeitos”, na sempre muito disputada categoria de Melhor Filme Internacional e como Melhor Som.
Ficando-se com apenas um Oscar, “Os Excluídos” abriu a noite de forma emotiva ao premiar Devine Joy Randolph como Melhor Atriz Secundária e Cord Jefferson como autor do Melhor Argumento Adaptado por “American Fiction”, que também dirigiu.
Numa cerimónia que não esqueceria a guerra no Médio Oriente e não terminaria sem uma bicada a Donald Trump por parte de Kimmel, os momentos politicamente mais relevantes dirigiram-se para a invasão da Ucrânica pela Rússia. Realizador do Melhor Documentário, “20 Dias em Mariupol”, o ucraniano MsTyslav Chernov afirmou no seu discurso ser provavelmente o único vencedor de um Oscar que desejaria não ter feito o seu filme, trocando de boa vontade a estatueta pelas vidas de todos que já morreram no conflito. Mais tarde, e a abrir o momento sempre solene da evocação dos que do mundo do cinema nos deixaram no último ano, uma fotografia e uma frase simbólica de Alexei Navalny.
Ausente da cerimónia estiveram Hayao Miyazaki, vencedor merecido do Oscar de Melhor Animação por “O Rapaz e a Garça” e Wes Anderson, que conquistou a estatueta para melhor curta-metragem, o seu primeiro Oscar, com “A Incrível História de Henry Sugar”
Para o ano há nova corrida aos Oscars, provavelmente com a nova categoria de Melhor Direção de Casting, estando também prevista para breve a inclusão da categoria de Melhor Duplo. No ano em que um filme rodado em película é o melhor do ano, será uma outra celebração do lado humano da arte cinematográfica face à cada vez maior importância dos efeitos especiais e da inteligência artificial.
Principais Oscars
Melhor Filme: "Oppenheimer"
Melhor Realização: "Openheimer"
Melhor Ator: Cillian Murphy ("Oppenheimer")
Melhor Atriz: Emma Stone ("Pobres Criaturas")
Melhor Argumento Original: Justine Triet e Arthur Harari ("Anatomia de uma Queda")
Melhor Argumento Adaptado: "American Fiction"
Melhor Filme Internacional: "A Zona de Interesse"
Melhor Documentário: "20 Dias em Mariupol"
Melhor Animação: "O Rapaz e a Garça"