O Museu de Serralves recebe a partir desta quinta-feira uma exposição com mais de 100 fotografias da autoria de Zanele Muholi. A artista e ativista sul-africana estreia-se em Portugal, depois de ter apresentado o seu trabalho em Londres, na Tate Modern.
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A maior retrospetiva da trajetória da artista sul-africana Zanele Muholi pode ser vista a partir desta quinta no Museu de Serralves, em parceria com a Tate Modern.
Muholi é uma das vozes que mais se destacam no mundo da arte contemporânea e no ativismo social. Acima de fotógrafa, a artista considera-se uma “ativista visual”, cujo trabalho humanitário e artístico documenta e celebra a vida das comunidades negras e LGBTQIA+, das quais faz parte.
A sua prática artística vai além de um registo visual ou documental, fazendo parte de toda uma narrativa de histórias de resiliência e resistência de minorias que continuam a enfrentar desafios sociais e políticos no seu dia-a-dia. Além disso, a obra pretende levar a uma reflexão sobre episódios históricos de opressão como o apartheid ou o colonialismo.
Zanele Muholi afirma que aquilo que os visitantes da exposição podem ver são fotografias que começaram a ser captadas no começo dos anos 2000, e que constituem “várias formas de guerra, que falam sobre a existência e a resistência das pessoas queer e trans”.
A fotógrafa explica a importância da presença de trabalhos como este num museu, afirmando que “muita gente já foi a marchas de orgulho gay, ou a outros eventos como esses, mas dificilmente se vê este tipo de imagens em museus”. Desta forma, Muholi sentiu a necessidade de produzir um arquivo visual que falasse com as gerações futuras, porque “estas comunidades merecem ficar na história”.
A exposição é constituída por 127 fotografias divididas em cinco séries, expostas em salas transformadas propositadamente para o evento. Inês Grosso, curadora-chefe, conduziu o processo de adaptação da exibição ao espaço, e esclarece ao JN que “foram feitas decisões um pouco radicais”, devido à “complexidade da obra de Muholi”. A curadora admite que a fundação decidiu ser “bastante ambiciosa” nos preparativos para o evento, “no sentido de trazer mais fotografias, imprimir mais fotografias, de convidar um arquiteto para trabalhar connosco e para fazer uma intervenção no espaço como há muito tempo não fazíamos”.
Relativamente à importância da exposição tendo em conta o cenário político e social da atualidade, Inês Grosso afirma que “a fundação está a acompanhar de perto tudo o que se passa mundialmente” e que espera que esta exibição “ajude a deixar uma semente para que as pessoas sintam vontade de pesquisar e de entender os conteúdos”.
A mostra de Zanele Muholi está aberta ao público até dia 12 de outubro, sendo esta a primeira grande apresentação da obra da artista em Portugal.