Bolsa de Valores de Hong Kong afunda. China preparada para travar guerra comercial com EUA
O principal índice da Bolsa de Valores de Hong Kong caiu esta segunda-feira 13,2%, a maior queda desde a crise de 2008, face ao agravamento da guerra comercial entre Pequim e Washington.
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O Hang Seng caiu 3021,5 pontos, para 19.828,30, enquanto o índice que mede o desempenho das empresas da China continental cotadas em Hong Kong, o Hang Seng China Enterprises, caiu 13,75%.
Trata-se da maior queda num só dia desde outubro de 2008, quando o índice perdeu mais de 2000 pontos no meio da crise financeira global desse ano.
A Bolsa de Valores de Hong Kong não negociou na passada sexta-feira devido a um feriado local.
O "Diário do Povo", jornal oficial do Partido Comunista Chinês, sublinhou hoje, em editorial, que a aplicação pelos Estados Unidos de uma taxa adicional de 34% sobre as importações chinesas, a somar às anteriores taxas de 20%, significará uma “redução do comércio bilateral” com os EUA e “um impacto negativo a curto prazo nas exportações”.
Pequim lançou na passada sexta-feira várias contramedidas às taxas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
As medidas de Pequim incluem taxas de 34% sobre produtos oriundos dos EUA, sanções contra empresas norte-americanas, restrições à exportação de certas terras raras ou a abertura de investigações antimonopólio e ‘antidumping’ contra empresas e produtos norte-americanos.
A China também apresentou uma queixa à Organização Mundial do Comércio contra os EUA através do mecanismo de resolução de litígios.
China preparada para travar guerra comercial
O "Diário do Povo" admitiu que as taxas impostas por Washington terão impacto na economia chinesa, mas ressalvou que a liderança em Pequim já estava a preparar-se para este momento.
“Embora os mercados internacionais considerem, de modo geral, que os abusos tarifários dos Estados Unidos excederam as expectativas, o Comité Central do Partido [Comunista] já tinha previsto esta nova ronda de contenção e repressão económica e comercial contra a China, estimou plenamente o seu potencial impacto e preparou planos de resposta com tempo de antecipação e reservas suficientes”, afirmou o jornal.
Reconhecendo que a aplicação de taxas alfandegárias adicionais de 34% sobre as importações oriundas da China, além das taxas de 20% impostas anteriormente, resultará numa “redução do comércio bilateral com os EUA” e num “impacto negativo a curto prazo para as exportações”, o jornal lembrou que “muitos produtos dos EUA têm elevada dependência da China”.
“Os EUA dependem da China não só para muitos bens de consumo, mas também para investimento e produtos intermédios, com uma dependência superior a 50% em várias categorias, o que torna difícil encontrar alternativas no mercado internacional a curto prazo”, lê-se no editorial.
A percentagem das exportações da China para os Estados Unidos, em relação ao total das suas vendas externas, caiu de 19,2%, em 2018, para 14,7%, em 2024. Parte desta queda deve-se ao ‘comércio triangular’, no qual os produtos são exportados quase concluídos da China para outros países, incluindo Vietname, Tailândia ou Camboja, onde é acrescentado um componente ou acabamento, visando alterar o local de fabrico, visando contornar as taxas. O jornal não refere este fenómeno.
O "Diário do Povo" lembrou que, nos últimos anos, “apesar das pressões internas e externas”, Pequim “tem persistido em fazer coisas difíceis, mas corretas”, incluindo desalavancar o setor imobiliário e reduzir o endividamento das administrações locais e das pequenas e médias instituições financeiras.
“Estes três grandes riscos foram eficazmente controlados e contidos e estão a diminuir”, assegurou.
Apontando a “grande dimensão” da economia chinesa, o jornal lembrou que a China dispõe de instrumentos de política monetária, como a redução do rácio de reservas obrigatórias e das taxas de juro, para estimular o consumo interno com uma “força extraordinária”, o que permitiria ao país asiático reduzir a sua dependência das exportações.
“O mercado interno tem uma ampla margem de manobra”, afirmou o jornal oficial do Partido Comunista Chinês. E sublinhou ainda a capacidade do país para transformar o efeito adverso das medidas dos EUA num “impulso” para acelerar a transformação económica e a “inovação industrial”.
“Estrangular, reprimir e restringir apenas forçará a China a acelerar os avanços tecnológicos fundamentais em áreas-chave”, avisou.