O exército do Nepal retomou o controlo da capital do país, Katmandu, nesta quarta-feira, dois dias depois do início dos protestos, os mais violentos em 20 anos, que levaram à renúncia do primeiro-ministro e à abertura de um debate interno sobre o futuro do país.
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A Polícia nepalesa reprimiu violentamente uma onda de manifestações contra a corrupção e uma decisão do governo demissionário de bloquear as redes sociais, em confrontos históricos que provocaram, de acordo com o mais recente balanço das autoridades nacionais, pelo menos 30 mortos e mais de mil feridos desde segunda-feira.
Forte presença do exército nas ruas da capital
Foto: Narendra Shrestha/AFP
Apesar de plataformas como Facebook, X e YouTube terem sido, entretanto, restabelecidas, de as autoridades terem prometido uma investigação à violência policial e de o até agora primeiro-ministro, K. P. Sharma Oli, ter renunciado ao cargo, alguns grupos de manifestantes saquearam, na terça-feira, edifícios públicos, como o Parlamento nepalês, e residências de vários líderes políticos, incluindo a residência do agora ex-primeiro-ministro.
Manifestantes incendiaram o Parlamento
Foto: Prabin Ranabhat/AFP
Na capital, descreve a AFP, os militares supervisionam o cumprimento do toque de recolher imposto até novo aviso para restabelecer a paz social. Soldados armados, em tanques e veículos blindados, patrulham pelas ruas entre os chassis de veículos incendiados e os restos das barricadas erguidas na véspera. As escolas, empresas e comércios permanecem fechados.
Portugueses estão "bem e em segurança"
Questionada pelo JN sobre a situação dos cidadãos portugueses no Nepal, fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros adiantou que "foi feito um esforço de identificação de cidadãos nacionais que se encontrassem na capital do país, incluindo a respetiva localização e a forma de contacto", tendo sido também atualizados os conselhos aos viajantes, com recomendações específicas.
Todos os 34 cidadãos nacionais até agora identificados encontram-se "bem e em segurança", estando a ser contactados pelo Gabinete de Emergência Consular regularmente.
"Os cidadãos nacionais foram aconselhados a evitar as manifestações e zonas onde se verifiquem protestos, a respeitar o recolher obrigatório decretado localmente e a seguir rigorosamente as instruções das autoridades nepalesas", adiantou o MNE, acrescentando que, estando prevista a retoma dos voos comerciais, não está a ser planeada para já a realização de evacuação extraordinária.
"Resultados de erros dos nossos líderes"
O chefe do Estado-Maior do Exército reuniu-se, esta quarta-feira, com várias personalidades, incluindo representantes dos manifestantes. Ontem, o general havia apelado "a todos os grupos envolvidos nas manifestações para manterem a calma e dialogarem", à semelhança do presidente nepalês, Ramchandra Paudel, que pediu "a todos, incluindo os manifestantes, que cooperem para resolver pacificamente a situação difícil do país".
Entre os nomes considerados para liderar uma possível transição, estão o da magistrada Shushila Karki, ex-chefe do Supremo Tribunal do país, e o do autarca de Katmandu, Balendra Shah.
K. P. Sharma Oli, de 73 anos, renunciou "para que possam ser tomadas medidas visando uma solução política". O líder do Partido Comunista do Nepal dirigiu o governo quatro vezes desde 2015 e é um exemplo dessa elite de líderes cuja saída é exigida pelos jovens, afetados pelas altas taxas de desemprego e cansados da corrupção.
Manifestantes exigiam a demissão do primeiro-ministro, que, entretanto, renunciou ao cargo
Foto: Prabin Ranabhat/AFP
"O vandalismo nunca foi uma boa solução para resolver problemas, mas é o resultado dos erros dos nossos líderes", comentou, à AFP, um polícia reformado, que apontou o dedo aos "incompetentes que proibiram as redes sociais para esconder a corrupção exposta na Internet".
Mais de 13 mil reclusos fugiram das prisões
De acordo com a AFP, mais de 13.500 reclusos escaparam das prisões durante os distúrbios em Katmandu, que provocaram o completo colapso do sistema prisional. Entre os presos libertados está o líder da oposição nepalesa, Rabi Lamichhane, retirado da prisão por uma multidão de manifestantes durante um violento protesto de rua, na segunda-feira.