Música canadiana Kara-Lis Coverdale apresenta-se este sábado em Braga.
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A canadiana Kara-Lis Coverdale não é dada a distinções, definições e comparações - e já perceberemos porquê -, mas há duas ideias que, para a artista, têm de ser separadas. “Os pontos altos da minha carreira para os média, não são os mesmos para mim.” Se os primeiros apontam colaborações, ainda em início de carreira, com Tim Hecker ou Floating Points, a artista sublinha experiências “do dia a dia”. “O mais importante foram os momentos em que aprendi como o som é um material maleável.”
Para lá da exceção no que toca a distinções, definições e comparações, Kara-Lis fala sobre diluir fronteiras - entre géneros musicais, entre o acústico e o eletrónico, entre o clássico e o contemporâneo. Todas estas ideias presentes nos seus cinco trabalhos a solo, bem como nas diversas colaborações e participações. “Para alguns artistas, como eu, a inspiração parte da conectividade e não da diferenciação.”
A compositora frisa ainda a visão “para lá da vontade de diluir ou diferenciar” seja o que for. “Vivemos num tempo de pensamento binário e o que procuro fazer é pensar num espetro.” A canadiana acredita que a sua forma de criar - peças sonoras com base em elementos acústicos, eletrónicos e trechos sonoros variados - é um “pensamento de longo prazo”.
Este “meio-termo” que Coverdale explora esteve sempre presente, mesmo no início, como organista e diretora musical numa igreja (aos 14 anos), em que já encarava a música sacra como algo “mais”. “É distinto trabalhar com música sacra ou teologia, uma é mais abrangente e a outra mais rígida.” Não há confronto entre religião e a sua experimentação musical, diz, por respeitar o que é a crença, restringindo-se à elasticidade da música.
Hoje, a presença como organista numa igreja não é formal, mas mantém a prática numa perspetiva “ritualística e introspetiva”, necessária à criação. “Às vezes é mais sobre o espaço que envolve o instrumento, do que apenas sobre o instrumento em si.” Destacando o ambiente e envolvência da igreja que alberga o órgão, Coverdale acredita que este é o momento da História em que devemos “questionar o uso destes espaços”, podendo ir além da sua função de crença.
Apresentação dupla
Atua no Gnration este sábado, sozinha ao piano, e traz novas composições. Segue-se a residência artística com o projeto Pipe Poetics da Braga 25 - Capital Portuguesa da Cultura, que culmina com uma criação exclusiva para o órgão de tubos ibérico da Basílica dos Congregados, apresentada dia 25, pelas 18.30 horas.