Um quarto em contexto de transmissão sexual, confirma ao JN Direção-Geral da Saúde. Identificado também um segundo surto, no Sul do país, entre crianças. Em curso rastreio de contactos e vacinação.
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Tal como outros países europeus, Portugal está a lidar com um surto de hepatite A, com 504 casos notificados neste ano. Daquele total, um quarto inserem-se em contexto de transmissão sexual, com maior incidência em Lisboa e no Porto. Tendo a Direção-Geral da Saúde (DGS) identificado também um outro surto, a Sul do país, entre a população infantil. Estando a autoridade nacional de saúde a implementar "as medidas de saúde necessárias com vista à prevenção de novos contágios, através do rastreio de contactos, de vacinação e de educação para a saúde”.
O alerta surgiu, nesta semana, pelas mãos do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), no seu mais recente relatório sobre doenças transmissíveis em circulação na Europa, com uma nota específica para Portugal. Recordando o surto iniciado em fevereiro do ano passado, o ECDC dá nota de “122 casos associados ao contacto sexual entre homens que fazem sexo com homens (HSH)” e que “a maioria dos novos casos foi relatada entre pessoas não vacinadas”.
Questionada pelo JN, nomeadamente sobre quantos casos e se apenas entre HSH, a DGS faz saber que “em 2025, e até 31 de maio, foram notificados 122 casos confirmados de hepatite A no contexto de transmissão sexual, o que representa um quarto do total de casos de infeção pelo vírus de hepatite A”. De acordo com a autoridade nacional de saúde, “os casos foram reportados em várias regiões do país, com maior incidência nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte, nomeadamente no Porto”. Com preponderância do sexo masculino, entre os 18 e 44 anos de idade.
Segundo surto afeta crianças
Posteriormente, em comunicado na tarde desta sexta-feira publicado no seu site na Internet, veio informar da existência de "um segundo surto localizado nas regiões do Algarve, Alentejo e região de Lisboa e Vale do Tejo, com transmissão associada a condições deficitárias de salubridade, que tem afetado, particularmente, a população infantil". Não quantificando o número de crianças infetadas com hepatite A.
Sobre o que está a ser feito em termos de saúde pública, na resposta enviada ao JN a DGS adianta que “as autoridades de saúde têm feito o acompanhamento direto e em permanência da situação, tomando as medidas de saúde necessárias com vista à prevenção de novos contágios, através do rastreio de contactos, de vacinação e de educação para a saúde”. Lembrando que para grupos de risco – pessoas que “participem em eventos de grande dimensão”, que “tenham práticas sexuais que as coloquem em risco acrescido para a infeção” ou que “viajam para áreas endémicas” – “a vacinação pré-exposição contra a hepatite A é a principal medida de prevenção”. Estando, também, “disponível em regime de pós-exposição para contactos próximos de casos confirmados”.
A vacina, que não está incluída no Plano Nacional de Vacinação, custa entre 17 e 20 euros, sendo gratuita para candidatos a transplante hepático e crianças sob terapêutica com fatores de coagulação derivados do plasma. No comunicado entretanto publicado, a DGS informa estar a "rever a norma da vacinação contra a hepatite A, com vista a facilitar o acesso gratuito à vacinação para os grupos mais vulneráveis da população". Ficando por se saber se nesse grupo estão incluídas as crianças.
ECDC monitoriza EuroPride Lisbon
A decorrer até domingo em Lisboa, o EuroPride, emblemático evento LGBTI+ da Europa, é alvo também de reflexão pelo ECDC, na medida em que “se espera um grande número de participantes, incluindo internacionais”. Mas também porque, em Portugal, “há um surto de hepatite A entre HSH e um número crescente de casos foi detetado desde novembro de 2024”, pode ler-se no referido relatório semanal.
Adiantando o ECDC que, “no contexto de preparação e resposta ao evento, as orientações nacionais foram reforçadas e os stocks de vacinas contra a hepatite A reabastecidos nas unidades de saúde nas áreas próximas aos eventos”. A DGS, por sua vez, sublinha ter “desenvolvido campanhas através das suas plataformas de comunicação e em aplicações de encontros, com o objetivo de informar sobre os comportamentos de risco”.
Promovendo, assim, “a vacinação preventiva” e “incentivando a procura de cuidados de saúde em casos de sintomas compatíveis com hepatite A” (ler ao lado). Campanhas estas que, frisa a autoridade nacional de saúde, “estão a ser promovidas com especial enfoque na população GBHSH [gays, bissexuais e HSH] no contexto do EuroPride Lisbon 2025.