Aiatola Khamenei, líder do Irão, promete "punição severa" para vingar o sangue do líder do Hamas. Netanyahu garante que inimigos vão pagar um preço elevado.
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Amos Oz, escritor judeu pacifista, já falecido, avisou várias vezes que o pior erro que Israel poderia cometer seria o de atacar o Irão. Aconteceu, esta quarta-feira, em Teerão. A vítima foi Ismail Haniyeh, líder político dos palestinianos do Hamas. O Irão promete vingança e Israel não rejeita o conflito armado.
Benjamin Netanyahu garante que “Israel vai fazer com que todos os que estão contra nós paguem um preço elevado”. Num discurso de apenas alguns minutos, ao início da noite, o primeiro-ministro assumiu a responsabilidade pela morte, no dia anterior, de um comandante do Hezbollah em Beirute, mas ignorou o caso de Ismail Haniyeh, eventualmente para evitar o pior.
“Não queremos a guerra, mas estamos a preparar-nos para todas as possibilidades”, admitira, horas antes, Yoav Gallant, ministro da Defesa israelita.
Os EUA, tradicionais aliados de Israel, já tentaram pôr água na fervura. “Nada coloca em causa a importância de se conseguir um cessar-fogo [em Gaza]”, sublinhou Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano. As relações do Estado judaico com todos os seus vizinhos podem reforçar ou debilitar qualquer tentativa de sanar o conflito Israel-Hamas, desencadeado a 7 de outubro do ano passado, quando uma série de militantes palestinianos mataram e raptaram judeus no kibutz Be’eri, no Sul do país, junto à Faixa de Gaza. Essa ferida ainda está muito aberta.
A situação agora criada com o Irão torna-se mais grave, do ponto de vista regional, pelo facto de Israel ter matado na terça-feira, em Beirute, Fouad Chokr, o “líder militar de mais alta patente” do Hezbollah e conselheiro próximo do líder do grupo xiita libanês, Hasan Nasrallah. Esta foi a resposta a um bombardeamento do movimento xiita, no sábado, nos montes Golã sírios anexados, que custou a vida a 12 crianças drusas (árabes) que tinham nacionalidade israelita.
Terrorista procurado
Quanto ao caso de Fouad Chokr, Netanyahu fez questão de sublinhar que era “um dos terroristas mais procurados em todo o Mundo”, por quem os EUA tinham recompensa de cinco milhões de dólares. “Esteve envolvido no assassinato de 241 soldados norte-americanos e 58 franceses em Beirute, em 1983, e era um fator-chave na ligação do Irão e do Hezbollah”, afirmou. O líder supremo do Irão, o aiatola Ali Khamenei, disse que, com esta ação, o regime sionista criminoso e terrorista prepara o terreno para uma punição severa para si próprio”. Masoud Pezeshkian, presidente da República, acrescentou que o Irão fará com que os “ocupantes terroristas se arrependam da sua ação cobarde”. Haniyeh terá sido morto porque Israel sabia da sua presença em Teerão.
O Hamas responsabilizou diretamente Israel pelo assassínio de Haniyeh e disse que esta morte “não vai ficar impune”. Também o líder da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmud Abbas, e o secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina, Hussein al-Sheikh, condenaram a morte de Haniyeh. Abbas, que governa partes da Cisjordânia ocupada, “condenou veementemente o assassínio, considerando-o um ato cobarde”.
Autoridades do Egito, Qatar, Jordânia, Líbano e Síria, entre outras, advertiram que o ataque à residência de Haniyeh em solo iraniano põe em perigo a região e pode levar a uma escalada de violência. O Cairo afirmou que a decisão compromete “os esforços enérgicos do Egito e seus parceiros para tentar travar a guerra na Faixa de Gaza”. O primeiro-ministro do Qatar, Mohamed Abdulrahman al-Thani, lamentou que a morte de Haniyeh comprometa as conversações de paz.
A diplomacia da União Europeia disse estar a seguir “atentamente” as notícias sobre a morte de Haniyeh, mostrando-se contra “execuções extrajudiciais”. Enquanto, isso centenas de iranianos protestavam já nas ruas.
O Conselho de Segurança da ONU ia hoje reunir-se de urgência, a pedido do Irão. O pedido foi apoiado pela Argélia e China, além da Rússia, que este mês preside ao Conselho de Segurança.
Tensões regionais
Conflito Israel-Hezbollah
O Hezbollah foi fundado no início dos anos 1980 com o apoio do Irão. O lançamento de rockets, de parte a parte, é frequente na fronteira. Os EUA dizem que apoiarão Israel numa guerra contra o Hezbollah.
Relação EUA-Israel
Os EUA têm sido aliados de Israel, fornecendo ajuda financeira e militar. Os benefícios da aliança têm-se tornado menos evidentes, tendo em conta a aproximação dos israelitas à China, a manutenção de relações com a Rússia e a falta de apoio à Ucrânia.
Papel do Catar
O Catar tem fornecido ajuda financeira a Gaza e tem atuado como mediador em conflitos regionais, mantendo uma relação complexa com os EUA e tensões latentes com a Arábia Saudita.
Política da Arábia Saudita
A Arábia Saudita tem atacado os hutis no Iémen, que estão solidários com Gaza, e estava quase a reconhecer Israel antes dos ataques de outubro, mas a retaliação desproporcional dos israelitas deitou tudo a perder.