Uma agente imobiliária e cinco solicitadoras do Algarve foram detidas por forjar contratos e cobrar pelo menos sete milhões
Corpo do artigo
Uma agente imobiliária é suspeita de promover a venda fictícia de imóveis, no Algarve, sem que os proprietários disso tivessem conhecimento. Em alegado conluio com quatro solicitadoras de Portimão, que certificavam assinaturas na ausência dos potenciais compradores, celebrava contratos-promessa de compra e venda para obter o valor do sinal das casas.
As cinco mulheres foram detidas pela Polícia Judiciária (PJ) de Portimão, na Operação Chave na Mão, por suspeitas de burla qualificada, falsificação de documentos e branqueamento de capitais, no setor imobiliário. Os crimes terão provocado prejuízos superiores a sete milhões de euros e lesado 20 a 30 pessoas.
A agente imobiliária, com dupla nacionalidade, portuguesa e alemã, teve um escritório em Portimão, era conhecida no ramo e tinha “bom nome”. Segundo o diretor da PJ de Portimão, Joaquim Trindade, “pelo menos durante um ano” promoveu “online” a venda de imóveis no Algarve sem que os donos soubessem. Muitos deles foram “surpreendidos com a existência de registos provisórios de venda das suas propriedades”.
As solicitadoras certificariam assinaturas e a agente imobiliária propunha contratos-promessa de compra e venda de imóveis situados no Barlavento algarvio. Os contratos eram feitos “com documentos formalmente válidos, mas o conteúdo era falso, sem conhecimento dos proprietários dos imóveis”, acrescentou Joaquim Trindade.
Pagaram sem visitar imóveis
O responsável da PJ explicou ainda que os investidores eram “essencialmente estrangeiros” e “alguns chegaram a entregar um montante superior a um milhão de euros, correspondente ao respetivo sinal, de que a suspeita se apropriou”.
Na maioria das vezes, “as pessoas nem visitavam os imóveis em causa”, por confiarem na agente imobiliária. “Tinha os dados dos proprietários e dos imóveis, por estes lhe terem sido entregues, pelos próprios proprietários, para fazer a sua gestão, para arrendamento e alojamento local”, frisou.
A agente imobiliária também terá aproveitado as relações de proximidade com algumas das vítimas, com quem já tinha feito negócios. Além de alemães, estão identificados lesados de nacionalidades norte-americana, polaca, francesa e portuguesa, embora, neste último caso, o número seja residual.
Os investidores lesados já identificados eram quase todos estrangeiros, mas o diretor da PJ de Portimão acredita que haja mais vítimas. “Foram localizados documentos de negócios que nos eram desconhecidos” e nos últimos dias foram formalizadas novas queixas “por pagamentos de mais de dois milhões e setecentos mil euros”, que poderão ter ligações a esta rede.
As detidas foram apresentadas a um juiz de instrução de Portimão na quarta-feira. Os interrogatórios prosseguiram ontem e, ao fecho desta edição, desconheciam-se quaisquer medidas de coação.
Saber mais
Inquérito de 2024
O inquérito, do DIAP de Évora, foi aberto em 2024, mas a PJ recolheu elementos que indiciam que a agente imobiliária atuava, pelo menos, desde 2022.
“Teia complexa”
A PJ acredita que as cinco detidas “formavam uma teia complexa” e “bastante rebuscada”. Há registo de outras burlas com imóveis no Algarve, “mas não por valores tão elevados”.
Sete buscas
foram realizadas: três domiciliárias e quatro nos escritórios das solicitadoras. A PJ apreendeu documentos, equipamento informático, dinheiro e joias.