"Não fui eu". Jovem acusado de matar a irmã na Moita culpa traficantes de droga
Alexandre Gonçalves, jovem de 23 anos que começou esta quarta-feira a ser julgado pela morte da irmã, em outubro de 2023, na Moita, recusou ter cometido o crime, apontando o dedo a traficantes a quem a menor devia dinheiro.
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O Ministério Público (MP) acusa-o de ter matado Lara Gonçalves, de 17 anos, em casa, por comportamentos que chocavam contra a sua fé cristã, nomeadamente o facto de a menor ter tido relações sexuais com homens casados e consumido droga.
"Não fui eu que matei a minha irmã, acompanhei dois homens encapuzados lá a casa que me disseram que a Lara lhes devia dinheiro e que iam lá buscá-lo, mas que não iam fazer-lhe nada de mal", disse Alexandre Gonçalves, em tribunal, acrescentando ter sido ameaçado pelos alegados homicidas para não contar nada. Ainda assim, não soube descrevê-los fisicamente.
O arguido defendeu em tribunal que os próprios pais sabem que não foi ele que matou a irmã. "Eles sabem que eu sou incapaz de fazer mal a alguém, muito menos a minha própria irmã. Eu não me importava com o estilo de vida dela, só lhe conheci um namorado, nem sabia que ela tinha outras relações, não me incomodava".
O crime aconteceu a 2 de outubro de 2023 na casa onde Alexandre, Lara e o pai viviam, na Quinta da Fonte da Prata, em Alhos Vedros, concelho da Moita. O arguido foi detido meses depois pela PJ de Setúbal.
O MP acusada o jovem de, nesse dia, pelas 6.30 horas, após o pai sair para trabalhar, ter asfixiado a irmã, na sala de estar, deixando lá o corpo, antes de ir para o emprego. Mais tarde, a avó encontrou o cadáver de Lara e foram acionadas as autoridades.
Questionado, em tribunal, sobre a relação conturbada que tinha com a irmã devido aos seus comportamentos, o arguido negou. "Eu era ateu. Só comecei a ir à igreja meses depois do crime, eu tinha uma relação cordial com a minha irmã", assegurou. "Cerca de um mês antes, fui abordado por cinco ou seis indivíduos, junto à escola, que queriam ajustar contas com a minha irmã por ela lhes dever dinheiro de droga. Combinámos que, no dia 2 de outubro, os levava a casa para eles cobrarem a dívida e assim foi", afirmou.
Quando a juíza pediu que Alexandre os descrevesse, o suspeito não foi capaz. "Não os consigo descrever. Da primeira vez estava de noite e não olhei para eles e, da segunda, estavam encapuzados. Sei que eram brancos".
Alexandre contou ainda que esperou que o pai saísse e entrou com os dois encapuzados, falando com a irmã. "Disse que os dois senhores estavam ali para cobrar uma dívida. Fui ameaçado para a agarrar pelas costas, fi-lo e, depois, mandaram-me embora para perto da entrada de casa, onde estavam outros três que ficaram ali comigo".
Além disso, revelou que ouviu gritos e que tentou fugir, sem sucesso, tendo sido ameaçado pelos dois homens, antes deles escaparem. "Fui depois ver a minha irmã, estava prostrada no chão, percebi que estava morta, virei um pouco o corpo para ver se foi esfaqueada e tentei perceber se tinha sido violada", continuou. No fim, diz ter saído de casa para ir trabalhar, regressando apenas ao fim do dia.
"Queria contar ao meu pai, mas acabei por não o fazer porque a minha mãe passou a dormir lá em casa e não a queria perturbar". Alexandre disse que apenas contou aos pais quando foi preso.
O arguido é autista e o MP considera, no despacho de acusação, que apesar de saber o que fez, não é capaz de avaliar a gravidade dos seus atos. O advogado de defesa pediu, em julgamento, a audição dos peritos do Instituto de Medicina Legal que realizaram as perícias psiquiátricas para que o jovem seja internado no Hospital Prisão de Caxias.