"Não contava com tanta destruição". Mais de 240 bombeiros combatem chamas em Gondomar
Um incêndio florestal que começou em Ferreirinha, na Foz do Sousa, Gondomar, rapidamente se propagou às freguesias de S. Cosme e Jovim. A Estrada D. Miguel e a A43 estiveram cortadas. Seis bombeiros ficaram feridos.
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José Melo, 74 anos, com uma oficina de serralharia há cerca de 40 anos acoplada à casa onde vive, em Jovim, Gondomar, olha incrédulo para tudo o que as chamas devoraram. Só se salvou a casa. “Imaginava que as chamas tivessem atingido a oficina, porque quando as autoridades me obrigaram a sair daqui já estavam perto, mas não contava com tanta destruição”, desabafou. Nas contas feitas por alto, José fala de prejuízos que ascendem a mais de 20 mil euros. Uma carrinha estacionada no pátio da habitação ainda ardia.
O serralheiro, visivelmente desolado, registou que o fogo chegou à Rua do Vale de Lousas pouco “antes da uma da tarde”. “Ainda me sentei para comer, mas o fogo veio com uma força tal que só tivemos tempo de fugir”.
Quase à mesma hora, Maria José Nunes, 60 anos, foi uma das vizinhas do lar Desabrochar de Novo, na Rua Professor Camilo de Oliveira, em S. Cosme, que ajudou a retirar os 33 idosos. As chamas rondavam as traseiras do lar que, por precaução, foi evacuado.
“Fiz o que pude! Distribuí águas, que foram cedidas pelo dono do café e até dei os chinelos do meu marido, porque havia utentes que chegaram aqui descalços”, contou a moradora.
Cinco horas depois, o grupo de idosos, alguns em cadeira de rodas, continuava na bomba de gasolina na zona de Ramalde o que gerou a revolta de muitos moradores. "É uma vergonha estes velhinhos, cinco horas depois de terem sido retirados do lar, ainda continuarem aqui na bomba, debaixo de sol, estando alguns deles com oxigénio", desabafou, um morador, aos gritos.
Com a Estrada D. Miguel cortada em Jovim, quem tinha casa nas imediações da Rua Professor Egas Moniz não arredava pé da rua. Os bombeiros entravam e saíam da zona de mato disparados para abastecerem. As sirenes não paravam.
Com as chamas a rondarem as traseiras de casa, o marido de Olga Cruz, 56 anos, molhava o terreno com a ajuda de uma mangueira, do cimo do telhado da garagem. "Vimos as labaredas mesmo aqui ao fundo que metiam medo", comentou a moradora, descrevendo que o cenário "foi o pior" de todos os incêndios que já ali aconteceram na zona.
Em Ferreirinha, na Foz do Souza, mal o camião cisterna dos bombeiros Voluntários de Leça do Balio para junto a uma boca de incêndio para abastecer, Catarina Cruz, de 25 anos, bombeira na corporação há três, sai da viatura e atira-se para o chão completamente esgotada. "Esta equipa está fez 24 horas na rua e estamos aqui com três horas de sono", confessou, dando nota que "o vento está a ser o principal adversário".
De Riade, na Arábia Saudita, onde chegou na manhã deste domingo a trabalho, o presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins assumiu que antecipou o voo de regresso e deve chegar na manhã desta terça-feira a Gondomar para acompanhar a situação.
Mesmo à distância, o autarca está a acompar a evolução do incêndio que conta com várias frentes. De acordo com o edil, o fogo "começou em Ferreirinha, na Foz do Sousa, passou a A43 e rapidamente subiu até à Estrada D. Miguel, na zona de Jovim.
Marco Martins não deixou de mostrar preocupação pelo evoluir do fogo, até porque "só está previsto que a taxa de humidade baixe na tarde desta terça-feira".
Ao que o JN apurou foi necessário evacuar três lares nesta segunda-feira, tendo alguns idosos sido transportados para o Multiusos de Gondomar, e três escolas, nomeadamente EB1 de Ramalde (S. Cosme), EB1 de Aguiar (Jovim) e o jardim de infância de Trás de Serra (Jovim).
No terreno permanecem 243 operacionais, apoiados por 37 viaturas e um meio aéreo.
Uma casa devoluta ardeu e seis bombeiros ficaram feridos, mas sem gravidade.