Maria Inês Marques encena “As secretárias” das Five Lesbian Brothers.
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É no espaço assético e viciado de um escritório que evolui a ação de “As secretárias”, peça que sobe ao palco do Teatro Campo Alegre com encenação de Maria Inês Marques. Quatro secretárias, sempre controladas pela supervisora, envergam figurinos com padrões de leopardo e envolvem-se em jogos de sedução e poder. Secretamente, integram o “culto das secretárias assassinas” e massacram, a cada mês, um lenhador da fábrica como forma de “reparação das injustiças de género na empresa”.
Ferozmente feminista, o texto foi uma das cinco criações coletivas das Five Lesbian Brothers, que agitaram a cena off-off Broadway nos anos 1990. Atuaram em espaços da vanguarda teatral de Nova Iorque como o WOW Café, Dixon Place, Performace Space 122 ou o mítico La Mama. As suas peças integram o currículo de estudos queer e feministas em diversas universidades dos EUA.
Chega pela primeira vez a Portugal pela mão de Maria Inês Marques, que foi atraída por um dos aspetos denunciados pelo texto: “A infiltração insidiosa do patriarcado nos universos profissional, político e interpessoal das mulheres”. Ou a forma como as hierarquias estabelecidas se reproduzem em figuras como as “boss ladies”, que se apropriam de “modelos de poder e decisão patriarcais” e se constituem como “enemy feminisms”, escreve a encenadora no texto de apresentação do espetáculo.
Na pele das secretárias estão as atrizes Carolina Amaral, Crista Alfaiate, June João e Maria Jorge, enquanto a “boss ladie” é interpretada por Lígia Roque. A montagem adota um tom de comédia negra cruzada com a influência de filmes de terror, sobretudo no desenho de som. E a ação alterna entre a presença ao vivo das mulheres e cenas exteriores trazidas por vídeo e voz-off. A ideia é “replicar no dispositivo cénico o mesmo desconforto que o texto propõe”, diz a encenadora.
"As secretárias"
Five Lesbian Brothers
Teatro do Campo Alegre, Porto
Hoje e amanhã