Avançado estado de putrefação ainda não permitiu identificação formal e indica que vítima conotada com tráfico foi assassinada no final de maio.
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José Pires, o empresário conhecido como “Pirinhos”, cujo corpo foi encontrado em avançado estado de decomposição na mala de um Fiat 500, em Braga, foi assassinado logo após o desaparecimento, a 26 de maio. A identificação formal ainda não foi efetuada devido à decomposição do cadáver, mas restam poucas dúvidas que se trate do empresário conotado com o tráfico de droga, uma vez que, entre os restos mortais, foi encontrado um relógio dourado, que habitualmente usava. A autópsia, que irá ajudar a estabelecer as circunstâncias da morte, deve ser hoje realizada.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, tudo aponta para que a morte de Pires tenha acontecido no dia do desaparecimento. O estado de putrefação em que foram encontrados os restos mortais assim o indica e não permitiu sequer realizar uma primeira identificação. O delegado de Saúde de Braga e os inspetores da PJ do Porto determinaram que o corpo fosse levado para o Instituto de Medicina Legal. O cheiro nauseabundo era de tal forma intenso que os bombeiros tiveram de usar máscaras com oxigénio para manipular os restos mortais. Entre estes foi encontrado o relógio dourado que familiares e amigos da vítima garantem ser de “Pirinhos”.
Vítima rodeava-se de cuidados
Para já, a investigação está a tentar reconstituir os últimos dias em que o empresário do ramo automóvel foi visto. Os pais de “Pirinhos” já foram ouvidos na PJ, assim como amigos, relações de trabalho e também a namorada (ler caixa). Os inspetores enfrentam várias dificuldades. É que José Pires tem antecedentes criminais por tráfico e está referenciado por ser uma das principais figuras do submundo da droga no Norte do país. O homem rodeava-se de cuidados, ao que tudo indica, para evitar vigilâncias das autoridades. No dia do desaparecimento, deixou o telemóvel em casa , em Gondomar, e alugou, junto de uma rent-a-car do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, o Fiat 500. Já não era a primeira vez que “Pirinhos” alugava um veículo, supostamente com o objetivo de não ser visto no seu carro e assim tentar passar despercebido.
É provável que tenha descartado o seu carro e telemóvel para ter um encontro relacionado com negócios ilícitos. Essa é, pelo menos, uma das linhas da investigação dos inspetores especializados na luta contra o banditismo.
“Pirinhos”, de 52 anos, tem um passado ligado ao tráfico e à criminalidade violenta. O homem que foi testemunha no caso Noite Branca, por ter ligações ao gangue da Ribeira, foi vítima, em novembro de 2009, de um sequestro que começou à porta de uma casa de prostituição de Vigo, na Galiza, e terminou em Vidago, mais de dez horas depois. Foi espancado e abandonado numa cova junto ao carro, que foi incendiado. “Pirinhos” nunca relevou a identidade dos sequestradores, mas a PJ identificou quatro suspeitos, que acabaram absolvidos por falta de prova.
Pormenores
PSP com suspeitas
Os restos mortais de “Pirinhos” foram encontrados depois da PSP estranhar o estacionamento prolongado de um Fiat 500, que tinha líquido nauseabundo a escorrer por baixo.
Morador estranhou
Um morador da Rua do Abade da Loureira, junto ao Bairro da Misericórdia, Braga, disse ao JN ter visto o veículo ali estacionado durante pelo menos 15 dias.
Franklim Lobo
“Pirinhos”, que seria próximo do homem considerado como o maior narcotraficante português, Franklim Lobo, foi absolvido no âmbito da Operação Aquiles, em que dois ex-coordenadores da PJ foram sentenciados com penas de prisão.
"Para mim ele era apenas um vendedor de carros"
Carine Cardozo namorou cerca de um ano e meio com “Pirinhos”, mas separaram-se poucos dias antes do desaparecimento. “No dia 24 de maio, apanhei-o em flagrante com uma amante. Deu-me um surto psicótico e parti-lhe o carro. Fui-me embora, saí de casa dele e nunca mais o vi”, disse ao JN. A mulher garante ter sabido do desaparecimento do ex-namorado por amigos de “Pirinhos”.
“Fui à casa dos pais dele para tentar saber o que se passou”, explica Carine, que nega ser conhecedora de negócios ilícitos de José Pires. “Para mim, ele era apenas um vendedor de carros. Vivia disso e nunca soube de outras coisas ligadas à criminalidade. Eu amava o José”. A mulher também recusa a ideia de ter fugido após o desaparecimento. “Não fugi. Sempre que brigávamos eu saía do Porto para evitar vê-lo. E agora foi igual. Não tenho medo de nada e não tenho nada a ver com a morte dele. O caso está entregue às autoridades. Já fui duas vezes à Polícia para ser ouvida. Agora é esperar que façam o seu trabalho”, rematou.