A única certeza que os credores e os governantes gregos têm é que na segunda-feira vão sentar-se à mesa para debater o futuro do país, mas tudo o resto parece ser uma grande e preocupante incógnita. Conheça os cenários em caso de vitória do "sim" ou do "não".
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As sondagens sobre o sentido de voto dos gregos no próximo domingo dão uma pequena vantagem ao "sim" (44,8% contra 43,3%), mas a percentagem de indecisos (11,3%) pode desequilibrar a balança em qualquer sentido.
Quais são os cenários?
Os cenários que estão a ser desenhados pelos analistas citados nos principais jornais e agências financeiras internacionais dão conta de más notícias para os gregos, seja qual for o resultado.
Se os cidadãos da Grécia votarem contra o acordo que estava em negociação no passado sábado, e que entretanto já não existe porque a Grécia falhou o pagamento de 1,55 mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional a meio da semana, as perspetivas apontam para uma saída da zona euro.
Se o "não" ganhar?
De acordo com o economista da Bloomberg Intelligence Maxime Sbaihi, "o cenário mais provável se o "não" vencer o referendo é uma saída da Grécia da zona euro, até porque é difícil ver como é que um acordo podia ser alcançado com as autoridades gregas a voltarem à mesa das negociações com uma posição mais extremada".
O cenário de vitória do "não" garante também, pelo menos a avaliar pelas declarações oficiais dos governantes gregos, a manutenção do atual Governo, que é olhado com crescente desconfiança por parte das autoridades europeias e dos principais líderes europeus, como o ministro das Finanças da Alemanha, que disse explicitamente que ninguém percebe o que o Governo grego quer.
Para além da questão política, existe também uma importante questão técnica e financeira: o Banco Central Europeu tem sido, desde fevereiro, o verdadeiro garante do funcionamento dos bancos, reservando quase 90 mil milhões de euros para garantir que os multibancos têm dinheiro e que o sistema financeiro pode continuar a funcionar.
Ao abrigo do financiamento de emergência ('Emergency Liquidity Assistance' - ELA, no original em inglês), o banco central tem emprestado dinheiro aos bancos gregos, mas apenas enquanto considerar que há uma perspetiva razoável de ser pago, o que pode deixar de acontecer se os governantes voltarem às negociações com uma posição mais dura.
Qual o papel do BCE?
Os analistas divergem sobre qual a posição que o BCE tomaria: cortar o financiamento de emergência, o que na prática significa colocar o país em bancarrota e literalmente sem euros, ou então aguardar por uma decisão política e adaptar as regras financeiras à decisão política, sendo certo que parece improvável que o BCE corte a assistência sem ter "cobertura política ao mais alto nível europeu", como escrevia há dias o Financial Times.
Se o "sim" ganhar?
A vitória do "sim" parece minorar as hipóteses da Grécia sair da zona euro, porque mostraria que os gregos estão dispostos a mais sacrifícios para se manterem na zona euro, mas isso deverá também levar à demissão do Governo grego, afirma o analista da Bloomberg, que aponta para novas eleições antes sequer de recomeçarem as negociações.
Neste cenário, o problema volta a ser também técnico-financeiro, e não só político.
A 20 de julho os gregos têm de pagar 3,5 mil milhões de euros ao Banco Central Europeu, mais do dobro do pagamento em falta ao FMI, e a partir dessa data o BCE está impedido de manter a assistência de emergência que tem garantido o funcionamento dos bancos na Grécia, o que significa, na prática, que os bancos ficarão, literalmente, sem dinheiro para funcionar.