A ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, é apontada como uma das favoritas à sucessão do também francês Dominique Strauss-Kahn à frente do Fundo Monetário Internacional.
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O lugar de director do FMI é, desde 1946, ocupado por um europeu, segundo um acordo não escrito que reserva aos americanos a presidência do Banco Mundial.
O primeiro obstáculo no caminho de Lagarde, se ela desejar ocupar o cargo, será a crítica directa a esta repartição de postos entre europeus e americanos feita pelas economias emergentes, do Brasil à China, do Mexido à África do Sul. Com um apadrinhamento na Rússia, que também tem o seu candidato.
A crítica parece tão mais pertinente quanto se sabe que de França foram originários os directores do FMI durante cerca de metade do tempo no pós-guerra: Pierre-Paul Schweitzer (1963-1973), Jacques de Larosière (1978-1987) e Michel Camdessus (1987-2000, três mandatos consecutivos). Três funcionários do Tesouro francês que tiveram, todos, crises financeiras internacionais para enfrentar.
Quinta-feira, após cinco dias de escândalo e detenção, Strauss-Kahn apresentou a sua demissão do FMI. Visto de Paris, o choque da "descida aos infernos" de Strauss-Kahn não impediu que se pusesse em marcha, de forma difusa mas eficaz, a campanha oficiosa para levar Christine Lagarde à sucessão do presidenciável caído em desgraça..
Segundo alguma imprensa francesa, não se trata apenas de uma história de rei morto, rei posto. O jornal electrónico Mediapart alude a uma "campanha, alimentada por indiscrições da imprensa, (que) começou muito antes do 'caso'" DSK, como é conhecido em França o director demissionário do FMI.
Notam os jornais franceses que havia a "convicção" em Paris de que DSK deixaria Washington (sede do FMI) o mais tardar em final de Junho, para se lançar na corrida à investidura para a eleição presidencial de 2012 pelos socialistas.
Christine Lagarde seria, nesse caso, a natural candidata do Eliseu para o FMI, tanto mais que é uma das estrelas do Executivo do Presidente Nicolas Sarkozy.
Por enquanto, a principal visada diz pouco do seu interesse no lugar de DSK. "Qualquer candidatura, qualquer que seja, deverá emanar dos europeus, que se juntam todos", afirmou Lagarde na quinta-feira.
A necessidade desse consenso será outro obstáculo de uma eventual candidatura de Lagarde. O governador do banco central holandês, Nout Wellink, afirmou já que vê "um candidato fantástico" noutro francês, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu e cujo mandato termina em Outubro.
Outro obstáculo surgiu na frente judicial. Christine Lagarde pode ser alvo de um inquérito judicial num caso envolvendo Bernard Tapie e o Crédit Lyonnais e que, por decisão da ministra das Finanças, foi resolvido por via arbitral e não por via judicial.
O caso parecia encerrado (em favor de Bernard Tapie) mas um grupo de deputados de esquerda na Assembleia Nacional apresentou recentemente um pedido de abertura de inquérito à actuação de Christine Lagarde, considerando que os actos da ministra foram "contra o interesse público".
Por último, uma questão de género pode complicar a opção pela ministra francesa. Na lista oficiosa de candidatos à sucessão de DSK está a ex-ministra das Finanças indonésia, Sri Mulyani Indrawati, actual número dois do Banco Mundial; e Nemat Shafik, diretora-geral adjunta do FMI, e que é, pelo passaporte, egípcia, britânica e americana.
* Agência Lusa