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Um Portugal engalanado que recebeu Isabel II por duas vezes

A capa do Jornal de Notícias de 29 de março de 1985, a dar as boas-vindas à monarca, que nesse dia visitava a cidade do Porto JN

Não faltaram multidões nas ruas para ver a monarca britânica em solo nacional. Acolher tão alta figura exigiu pompa e circunstância na ditadura e na democracia

Num país que deixou de ter monarquia em outubro de 1910, Portugal engalanou-se e vestiu-se a preceito para receber por duas ocasiões a rainha Isabel II, uma em 1957 e outra em 1985. Nas duas visitas da chefe de Estado britânica, que esteve 70 anos no trono, a euforia tomou conta das ruas de várias cidades portuguesas, com particular destaque para Porto e Lisboa, onde as multidões fizeram parar (quase) tudo.

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Aos 30 anos de idade, e com apenas cinco anos de reinado, uma jovem Isabel II chegou a Lisboa. O desembarque oficial aconteceu no Cais das Colunas: a rainha e o marido saíram do iate real Britannia, onde o duque de Edimburgo tinha feito uma longa viagem pelos países da Commonwealth, grupo que na altura fazia parte do império britânico e que se viria a reconverter, aos dias de hoje, numa organização de cooperação e amizade entre os territórios.

Isabel II, que não via o companheiro havia quatro meses, teve antes outro ponto de encontro com Filipe em Portugal. A 16 de fevereiro de 1957, a rainha chegou à base aérea do Montijo, onde tinha à espera o marido. O casal seguiu para a baía de Setúbal, onde o Brittania estava ancorado.
Dois dias depois, o navio atracaria na capital, onde começaria oficialmente a primeira visita de Estado da monarca ao país.

Usar vestidos de Paris
Craveiro Lopes, presidente da República de então, recebeu a jovem rainha no Terreiro do Paço. Era um Portugal cinzento, em plena ditadura, pouco dado a euforia, mas que ganhou cor nas indumentárias e nas varandas para receber a monarca. O chefe de Estado português ofereceu-lhe um cavalo lusitano, uma entre as várias despesas da visita que António de Oliveira Salazar não terá apreciado.

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Os registos dão conta de muitas senhoras com "vestidos de Paris", que transformaram o Terreiro do Paço num desfile da moda. O dia era especial: misturou ricos e pobres no mesmo local, para ver a rainha de quem todos falavam. Isabel II visitou Alcobaça e a Nazaré, mas seria o Porto a igualar a apoteose da capital. A Avenida dos Aliados encheu-se para ver o cortejo real. Na edição de 22 de fevereiro de 1957, o JN conta que as "gargantas estavam roucas de tanto aclamar".

Eanes fala sobre Timor
Com novos protagonistas na família real, como a princesa Diana e o filho Carlos, a rainha regressa a terras lusas quase 30 anos depois, em março de 1985, e volta a mover multidões. Isabel II encontra um Portugal democrático, prestes a entrar na Comunidade Económica Europeia. Seriam Ramalho Eanes, enquanto presidente da República, e Mário Soares, como primeiro-ministro, a recebê-la.
Num banquete no Palácio de Ajuda, Eanes não se inquietou com protocolo real, de não comentar política, e fala sobre a libertação do povo de Timor-Leste da subjugação da Indonésia no discurso para a monarca.

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O casal passou pela Assembleia da República, a Saint Julian"s School e o Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Esteve em Évora e no Porto, onde foram entregues as chaves da cidade à rainha. Não voltaria mais a Portugal, tendo sido representada pelos filhos Carlos e André e as noras de então, Diana e Sarah Ferguson.

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