Ao longo de 70 anos, monarca assistiu a diversos sobressaltos na História do Reino Unido, desde os conflitos na Irlanda do Norte ao "Brexit"
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Apesar de as monarquias constitucionais depositarem praticamente todo o peso político nos parlamentos, há uma série de procedimentos que se mantêm na esfera exclusiva do rei ou da rainha. No caso de Isabel II, a última tarefa nesse capítulo foi indigitar Liz Truss como primeira-ministra do Reino Unido, na passada terça-feira, na sequência da demissão de Boris Johnson e das eleições internas no Partido Conservador, que deram a vitória à até então ministra dos Negócios Estrangeiros.
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Em sete décadas, a monarca agora desaparecida lidou com 15 chefes de Governo, uns mais polémicos do que outros, e com uma série de sobressaltos históricos no Reino Unido. Desde logo, os conflitos na Irlanda do Norte, que se prolongaram por mais de 30 anos, mas também a guerra das Malvinas, disputada com a Argentina no início dos anos 80.
Saída da União Europeia
Também foi sob o seu reinado que os britânicos aderiram à Europa comunitária, no início da década de 70, e que acabaram por sair da agora União Europeia, ao cabo de um longo e penoso processo iniciado com o referendo de 2016. O designado "Brexit" entrou em vigor precisamente às 23 horas do dia 31 de janeiro de 2020.
Nada comparado com o papel de um presidente da República - mesmo nos sistemas, como o vigente em Portugal, em que o chefe de Estado divide com outros órgãos de soberania o poder de contrapeso face ao poder governativo -, o cargo da rainha exigiu-lhe, ainda assim, uma série de deveres.
Contacto permanente
Por exemplo, Isabel II mantinha um estreito contacto com o chefe do Executivo (com audiências semanais), tal como com outros membros do Governo. E tinha conhecimento de todos os diplomas aprovados em Conselho de Ministros, cuja agenda lhe era comunicada previamente.
Por outro lado, recebia cópias dos mais importantes despachos do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Commonwealth, assim como resumos diários das, muitas vezes acesas, sessões parlamentares.
Em termos de protocolo, cabia-lhe receber os chefes de Estado que visitassem o Reino Unido e outras personalidades estrangeiras importantes. Também presidia às cerimónias de atribuição de medalhas a pessoas que se distinguiam na vida pública.
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Em termos sociais, promovia festas nos jardins reais com milhares de convidados, quer no Palácio de Buckingham, quer no Palácio de Holyroodhouse (na Escócia).
Além do Reino Unido, Isabel II era, atualmente, a soberana de 14 outros estados da Commonwealth. O número foi variando ao longo do seu reinado, à medida que alguns países conquistaram a independência e se tornaram repúblicas.
Em termos externos, fizeram história as suas visitas à China, em 1986 (foi a primeira chefe de Estado britânica a fazê-lo e também a primeira a discursar no Congresso dos EUA, em 1991), à Rússia, em 1994, e à República da Irlanda, em 2011.
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"Reina, mas não governa"
Isabel II foi mais uma personalidade a dar corpo ao adágio anglo-saxónico "The queen reigns but does not rule", que, em tradução livre, significa algo como "A rainha reina, mas não governa". São assim as monarquias constitucionais como a que vigora no Reino Unido, em que a figura de topo, ao contrário das monarquias absolutas, vê o seu poder muito limitado pelos outros órgãos, em particular o Parlamento e o Governo. Fica-se, praticamente, pelo desempenho de um papel cerimonial.
A maior família de monarquias constitucionais é constituída pela Commonwealth, cujos estados são democracias parlamentares independentes sob um monarca comum, até agora Isabel II. Mas, contrariamente ao que sucede no Reino Unido, em alguns desses países as constituições atribuem ao representante da Coroa um lugar junto dos poderes executivo e legislativo do governo.