O impacto da solidão na saúde tem vindo a ser estudado nas suas múltiplas implicações e chegam agora dados que correlacionam o afastamento social com o aumento da prevalência de cancro em 11%
Estar socialmente isolado pode levar a um risco acrescido de 11% de morrer de cancro. As conclusões decorrem de um estudo publicado a 14 de outubro pela revista médica BMJ Oncology e vem espessar os dados já conhecidos esta semana e trazidos pela OCDE, que revelavam a possibilidade de 870 mil mortes prematuras aceleradas devido ao isolamento e afastamento sociais.
Nesta nova investigação canadiana - que olhou ao detalhe e coligiu dados de 16 outras análises que abrangeram um total de milhão e 600 pessoas com cancro estudadas no Canadá, Inglaterra, Finlândia, França, Irlanda, Japão e Estados Unidos da América-, ficou claro que "a solidão e o isolamento social podem influenciar os resultados do cancro além dos fatores biológicos tradicionais e relacionados com o tratamento", referiram os investigadores, citados em comunicado.
A equipa de investigação (cujo resultado do estudo pode ser consultado no original aqui) lembra que a solidão tem impactos na saúde física já conhecidos, desencadeando uma resposta ao stress que prejudica o sistema imunitário e causa inflamação, acelerando a progressão da doença, no caso o cancro.
Importa vincar que, segundo dados de setembro deste ano, a análise levada a cabo pela Global Burden of Disease Study Cancer Collaborators e publicada na revista científica The Lancet, alertou para "um rápido aumento no número global de casos e mortes por cancro entre 1990 e 2023, apesar dos avanços no tratamento da doença e dos esforços para combater os fatores de risco". Olhando os resultados de 204 países e territórios e incluindo 47 tipos ou grupos de cancro, a entidade revelou há um risco de aumento da doença em 75% nos próximos 25 anos, ou seja, em 2050. Segundo os autores, "sem ações urgentes e financiamento direcionado", prevê-se que 30,5 milhões de pessoas recebam um novo diagnóstico de cancro (mais 61% do que em 2024), e 18,6 milhões morram de cancro em 2050 (quase mais 75%), com mais de metade dos novos casos e dois terços das mortes a ocorrerem em países de baixo e médio rendimento.