Mais investimento no estudo de tumores, maiores possibilidades de tratamento. No dia em que se evoca o cancro ginecológico, patologia que soma cerca de três mil novos casos por ano diagnosticados em Portugal, médica oncologista lembra os principais avanços no combate a esta doença e as mais recentes esperanças que existem para as mulheres
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"Nos últimos cinco a sete anos tem havido maior investimento por parte da indústria farmacêutica e nas terapêuticas". frase é da médica oncologista Filipa Silva que sintetiza e traz bons prognósticos para os avanços científicos e tratamentos para quem sofre dos cancros ginecológicos, com cerca de três mil novos casos diagnosticados em Portugal, todos os anos, e cujo dia Mundial se evoca este sábado, 20 e setembro.
Falamos de tratamentos, como refere a especialista da Fundação Champalimaud, que "são validados em ensaios clínicos e que avaliam a qualidade de vida das doentes" não só em termos de bem-estar como de capacidade para travar eventual agravamento de uma classe patológica que envolve os tumores do colo do útero, do ovário, do endométrio, mas também de outros menos falados como o da vagina e da vulva.
De entre as novas abordagens terapêuticas, Filipa Silva começa por descrever os tratamentos de "imunoterapia", que consiste "em colocar o sistema imunitário alerta e a combater o próprio tumor". Uma proposta que, refere a oncologista, tem conseguido bons resultados no cancro do ovário e do endométrio avançado e dados positivos no caso do colo do útero". Propostas disponíveis em unidades privadas mas também no Serviço Nacional da Saúde, como explica a médica.
Para lá da imunoterapia, há também uma nova classe de fármacos - os conjugados Anticorpo-Fármaco - que têm vindo a ser aplicadas na prática clínica do cancro do ovário. "Já estamos a utilizar e está também disponível em acesso precoce", sob autorização da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed)", explica a oncologista.
Também "há quatro ou cinco anos", foi dado o passo importante no cancro do ovário com as terapêuticas de intervenção Inibidores da PARP", que está indicado para todas as mulheres que têm diagnóstico avançado para aquele tumor como estratégia de manutenção e após quimioterapia.
Paralelamente - e não apenas para o cancro do ovário, mas também para cancro de mama, por exemplo - estão em marcha, na Champalimaud, ensaios clínicos que permitem "personalizar a terapêutica para as pacientes" através do recurso do peixe-zebra.
Filipa Silva detalha que o procedimento, com respostas possíveis em duas semanas, implica recolher, através de biópsia, material do tumor da paciente para depois ser injetado no peixe-zebra. Este é depois sujeito a vários tratamentos, permitindo perceber qual o melhor para a paciente. "No cancro do ovário, com este peixe-zebra temos resultados preliminares à volta dos 90%, parece que o peixe parece predizer com boa acuidade qual a resposta ao tratamento de quimioterapia mais adaptado a cada doente", informa a médica oncologista. Um ensaio clínico que ainda acomoda novos casos - sejam eles da fundação ou de hospitais -, mas que devem obedecer a critérios de inclusão muito específicos e a referenciação por parte de médicos.
Cancro, suplementação e clareza
A oferta por parte de não especialistas e a procura, pelas utentes, de metodologias e suplementação para fazer face a doenças como o cancro tem vindo a crescer. Contudo, os riscos de enveredar por caminhos pouco ou nada testados e pela mão de pessoas não formadas devem ser tido em conta pelas pacientes que procuram alternativas de tratamento.
Filipa Silva nota à Delas.pt que "tem havido uma procura e pressão crescentes das pacientes por parte da suplementação", que "há muita desinformação" e "muitos estudos que sustentam estas teses que não estão feitos de forma mais correta". Pede, por isso, cautela na adoção de alternativas e na interpretação destas novas realidades.
Mais do que negar esta realidade, a médica pede clareza: "Existem algumas clínicas que se têm vindo a especializar, é um negócio que tem crescido, pelo que só posso dizer que se é para ser feito, então tem de ser acompanhado por quem percebe." Começam a existir, dentro da área da medicina, especialistas que se "interessam por estas temáticas", informa a médica oncologista. Considera, portanto, que "o papel das instituições é trazer estas alternativas, chamadas Medicina Integrativa, e que vão além dos suplementos, integram medicina tradicional, acupunctura, reiki e outros".
Mas o trabalho não se esgota aqui. As pacientes devem também ser francas e "partilhar sempre com o médico oncologista o que estão a fazer", pede Filipa Silva. "Eu costumo perguntar sempre, é importante deixarmos essa porta aberta para com as pacientes e não sermos críticos, porque muitas vezes basta alguém da família ter tido um cancro e ter usado suplementos para depois a pessoa fazer igual, e é muito importante partilhar a informação", insiste a médica oncologista.
Passos à posteriori e para lidar com doenças que podem - e devem - ser detetadas atempadamente. Filipa Silva reitera a importância da "prevenção e do diagnóstico precoce" no que diz respeito aos cancros ginecológicos, com maior margem para prognósticos favoráveis. A médica oncologista pede para "não esquecer o rastreio de da vacina do HPV, manter a vigilância ginecológica regular - uma vez por ano -, estar atenta aos sinais, não desvalorizar sintomas e procurar ajuda para perceber desde logo se alguma coisa não está bem".